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“Bizarros Peixes das Fossas Abissais”: Apostando no absurdo, animação destaca-se por sua excentricidade desenfreada | 2024

Os desenhos animados são um terreno fértil para a imaginação. Em um período entre final dos anos 1990 e início dos anos 2000, o Cartoon Network exibiu produções que se destacaram pela sua abordagem sem noção, incorporando um humor sarcástico ao extremo e inserindo piadas adultas de maneira astuta em animações teoricamente voltadas para o público infantil. ‘A Vaca e o Frango’, ‘Coragem, o cão covarde’ e ‘Du, Dudu e Edu’ são exemplos marcantes desse caráter subversivo que a televisão assumiu naquela época.

‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’ adota um princípio similar, deixando que a imaginação voe livre, desprovida de qualquer amarra ou limitação, por mais distante da realidade que possa parecer. Este enfoque arrojado proporciona uma experiência única, desafiando as convenções e permitindo que o público mergulhe em um universo onde a originalidade e a ousadia se destacam.

Uma mulher com o poder de transformar seus glúteos em um gorila (Natália Lage), uma nuvem simpática e mijona (Guilherme Biggs) e uma tartaruga com transtorno obsessivo-compulsivo (Rodrigo Santoro), unem-se com objetivo de recuperar um tesouro cujo mapa está oculto nas peças de um vaso quebrado. Para alcançá-lo enfrentarão desafios surreais, incluindo os temíveis rinocerontes do espaço e bizarros peixes das profundezas do oceano.

Longa-metragem de estreia do cineasta Marão, ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’, embora navegue por águas nada convencionais, tem em sua essência uma história bastante comum. A trama segue um grupo de amigos unidos por um objetivo comum e com uma justificativa nobre e justa. O diferencial reside na imaginação fértil do criador, que, antes de revelar claramente a direção da narrativa, “agride” nosso senso comum com imagens que podem desconcertar os desavisados e incomodar os mais tradicionalistas. Essa subversão não se limita apenas às características únicas dos personagens, mas também se estende aos diferentes estilos visuais e traços autorais, indo do colorido ao preto e branco, cada um contando uma história distinta e, ao final, unindo-os de maneira astuta e comovente.

Com pouco mais de uma hora de duração, o filme apresenta duas metades distintas. Entre elas, ocorre uma virada problemática que enfraquece a narrativa ao abandonar momentaneamente a fantasia e dar voz a uma narração excessivamente expositiva. Isso não apenas transforma o que antes era um exercício de imaginação em uma explicação didática, mas também destoa do que foi apresentado anteriormente e do que está por vir. Ao adentrar a fossa abissal, título do filme, somos imersos novamente no universo peculiar do autor, com seres e sequências surreais que conduzem a um desfecho surpreendentemente lírico.

Não buscar entender a razão, mas sim a poesia talvez esse seja o principal desafio que ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’ propõe. Embora estejamos acostumados a suspender a descrença, como nos longas de super-herói, a saída da realidade quando feita de forma mais ousada ainda parece ser um tabu. No entanto, com um pouco de boa vontade e uma dose generosa de entrega, o desconhecido pode se revelar um lugar encantador.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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