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“Transe”: Misto de documentário e ficção, filme acompanha as manifestações do #EleNão | 2024

Se há uma palavra que casa bem com qualquer projeto criativo é a reinvenção. E foi essa a palavra que eu encontrei para definir “Transe”, um misto de documentário e ficção que esteve na competição da Premiére Brasil do Festival do Rio e na Mostra SP em 2022 . Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães nos faz reviver um período indigesto na nossa política em 2018, mas consegue também doses de esperança, principalmente porque nos apresentou esse filme pela primeira vez durante o pleito eleitoral para presidente naquele mesmo ano.

O ponto de partida de “Transe” é a manifestação do Ele Não poucos dias antes do dia da eleição, capitaneada em sua maioria por mulheres. A protagonista, Luisa (Luisa Arraes), conhece Johnny (Johnny Massaro) e o leva para casa, formando um então triângulo amoroso com o namorado Ravel (Ravel Andrade). Por entre os diálogos criados no círculo de amigos desse trisal, o longa mostra, através de legendas na tela e áudios, diversos discursos polêmicos do então candidato Jair Messias Bolsonaro, declarações inacreditáveis e estarrecedoras a favor da tortura, contra quilombolas, e outras minorias.

Carolina Jabor (“Aos Teus Olhos” – 2017 e “Boa Sorte” – 2014) tem toque de midas para tratar temáticas pesadas e fazer dessa mesma mensagem algo não só palatável como atraente e caro aos espectadores. E assim, ela consegue fazer também nesse novo filme. Ao incluir um triangulo amoroso e criar um clima com muito amor livre, liberdades e diálogos, a direção consegue levar a audiência para dentro do debate, e ainda que o discurso seja incisivo e claramente contra o candidato da extrema direita que voltou ao cenário de um segundo turno turbulento e polarizado, percebemos que o direcionamento não é exatamente política por política e sim contra pautas e posições que não deveriam sequer ter sido um dia tomadas, e que hoje se torna ainda mais inacreditável pensar que ainda estejamos lutando a mesma luta. Presenciando uma batalha entre o fanatismo e a lucidez.

O título “Transe” , que pode nos remeter a uma lobotomização em massa, aqui também faz menção às relações interpessoais, seja por corpos através do sexo ou através de longas conversas. Jabor traz por exemplo um debate que vira e mexe vem à tona quando questiona o porque de grande parte dos cristãos evangélicos viabilizarem e endossarem o discurso de ódio proferido por Bolsonaro, se é notório que a Bíblia prega o amor. Para isso, usa uma pontual participação do Pastor Henrique Vieira, eleito deputado federal,  que é uma voz potente que vai na contramão de algumas lideranças evangélicas que apoiam o ex presidente.

Segundo Carolina Jabor sua intenção era fazer um filme histórico, mas desafortunadamente vemos a história se repetir à medida que esses discursos vira e mexe ecoam. O final foi feliz da última vez, mas a luta contra o fascismo não pode perder força jamais.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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