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“A Sala dos Professores”: Uma tensa narrativa que aborda as complexidades do ambiente escolar | 2024

Poucos ambientes são tão complexos quanto o escolar. Reunindo pessoas de diferentes realidades numa faixa etária das mais complicadas e determinantes, administrar as situações inusitadas, os conflitos e ainda dar conta de fornecer a melhor didática possível na formação dos estudantes é tarefa das mais desafiadoras para qualquer profissional da educação. O cinema, de modo geral, acostumou-nos ora com uma visão romantizada daquele espaço e da profissão de professor, como nos clássicos “Ao Mestre com Carinho” ou “Sociedade dos Poetas Mortos”, ora debochada, como é bastante comum na maioria das comédias high school hollywoodianas. Raros são os projetos que objetivam expor de forma séria e madura esse espaço de interação humana tão singular, dentre os quais é possível citar o documentário francês “Entre os Muros da Escola”(2008), o belíssimo “Nenhum a Menos”(1999), do mestre chinês Zhang Yimou, e o polêmico longa alemão “A Onda”(2008).

Também oriundo das terras germânicas, “A Sala dos Professores” procura se colocar nessa vertente cinematográfica que observa a relação entre mestres e discípulos através de um prisma mais realista. Na trama, a dedicada professora Carla vê a relação com seus alunos e com os demais companheiros docentes ruir quando decide agir frente a uma série de furtos que estão ocorrendo na escola. A partir de sua tentativa de revelar o autor dos delitos que viraram o principal assunto nas rodas de conversa, o roteiro escrito pelo diretor Ilker Çatak e por Johannes Dunker vai se dedicar às consequências de um ato que, embora dotado das melhores intenções, passa a ser questionado por conta do método empregado e das consequências que acarreta. É perceptível a gradual corrosão do relacionamento entre a jovem professora e sua turma, que passa a refletir o clima de hostilidade que se instala nos corredores daquela instituição de ensino.

Embora crie uma curiosa atmosfera de whodunit, com figuras que propositalmente ganham ares suspeitos, Catak está claramente mais interessado em discutir como, num lugar tão plural e sensível, cada atitude (até a supostamente mais recomendável) pode sair de controle, ganhando nuances e proporções inimagináveis. O diretor consegue imprimir um crescente clima de tensão à medida que cada nova atitude de Carla (Leonie Benesch em ótima performance) no intuito de contornar o imbróglio, que evidenciam o seu notório senso de justiça e de preocupação pedagógica, acaba ampliando ainda mais o abismo que se abriu diante de um contexto em que a descoberta do culpado se tornou uma questão secundária.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, “A Sala dos Professores” é eficaz na desmistificação de um ambiente diverso como é qualquer escola e eletrizante na forma como conduz os desdobramentos das ações de sua protagonista. Contudo, perde pontos ao não nos fornecer informações sobre ela para além do cargo que ocupa – como se Carla não tivesse vida fora dali – e por jogar o espectador numa panela de pressão, sem preparar um arremate condizente com a qualidade oferecida ao longo de sua duração, ficando a sensação de que os realizadores optaram por uma conclusão abrupta – distante, inclusive, do tom empregado até então – simplesmente por não saberem mais o que fazer diante das várias possibilidades criadas. Tal como aquele aluno que, consciente de que foi bem durante a maior parte da prova, deixa a questão final sem resposta.

Alan Ferreira

Professor, apaixonado por narrativas e poemas, que se converteu ainda na pré-adolescência à cinefilia, quando percebeu que havia prendido a respiração ao ver um ônibus voando em “Velocidade Máxima”. Criou o @depoisdaquelefilme para dar vazão aos espantos de cada sessão e compartilhá-los com quem se interessar.

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