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“Meu Amigo Robô”: Sem diálogos e ao som de ‘September’, animação discute relações humanas na contemporaneidade | 2024

O cinema, em sua essência, é a manifestação de imagens em movimento. Embora essa definição pareça simplista nos dias de hoje, na época do surgimento da sétima arte, era exatamente isso. Com recursos limitados, as histórias eram contadas por meio de símbolos, encenações expressivas e sequências visuais inventivas.

O advento do som em 1927 marcou uma primeira grande transformação, mas o progresso tecnológico não fez com que as antigas formas caíssem em desuso. O cinema mudo, com seu legado singular, perdura até os dias atuais. Em “Meu Amigo Robô”, essa herança dos primórdios do cinema é notável, pois, sem uma única palavra, o filme nos envolve em uma história de profunda sensibilidade e ternura, destacando a atemporalidade da linguagem visual.

Num canto solitário do Brooklyn, um cão encontra a amizade tão desejada em um robô. A conexão improvável entre esses dois seres distintos floresce com alegria e companheirismo. Até que o acaso os separa, fazendo cada um experimentar a dor da distância à sua maneira.

Os traços, as cores e até a premissa podem conferir um tom leve e descontraído, mas “Meu Amigo Robô” abre espaço para a discussão de temas de grande relevância, como relações líquidas, apego, solidão e a capacidade de seguir em frente. A ausência de diálogos, à primeira vista, se revela desafiador, mas abre caminhos para soluções visuais extremamente criativas.

Como em uma sequência marcante em que o robô, após desenvolver amizade com uma pequena família de pássaros, assume o papel de incentivador quando um dos filhotes hesita em voar. Utilizando somente os movimentos da boca, faz com que esse singelo ato represente tanto o bater de asas quanto expressões faciais alternadas entre sorrisos e tristeza. Esse gesto não apenas simboliza o desejo de ver o amigo alçar novos voos, mas também transmite a complexidade do sentimento agridoce da despedida. Essa abordagem sutil revela-se pedagógica para os nossos tempos, oferecendo uma experiência delicada e profundamente impactante.

Baseada no quadrinho homônimo da autora Sara Avon, “Meu Amigo Robô” é uma história para toda a família, com múltiplas camadas que se desdobram de acordo com a fase de vida ou maturidade do espectador. As crianças se encantarão com uma história esteticamente atraente, repleta de momentos singelos carregados de afeto, enquanto os adultos, se abertos para tal, podem refletir sobre a responsabilidade afetiva e o vazio característico de nossos tempos. Para além de um excelente entretenimento, o filme é uma obra absolutamente necessária.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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