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“Rebel Moon: A Marcadora de Cicatrizes”: Zack Snyder expande seu universo estelar através dos ócios – e ossos – do ofício | 2024 

Para encontrá-la e lutar

Mesmo em meio a alguns devaneios egóicos e a uma insistência latente de esticar suas próprias histórias, Zack Snyder sabe como me cativar. Desse modo, tenho uma confissão a fazer: “Rebel Moon: A Marcadora de Cicatrizes” me foi um passeio bastante satisfatório, contrariando minhas próprias expectativas – principalmente ao levar em conta a catarse caótica que foi o primeiro filme. Snyder, obviamente, não é um cinema de requintes e subtextos como um Scorsese ou um Peele da vida, e em algumas ocasiões seu conteúdo por muito pouco não se limita a um mero refinamento estético. Contudo, ainda assim ele consegue ser um escapismo eficiente e o novo filme de sua ruidosa franquia sci-fi é um glorioso pastiche de qualquer coisa – e isso é legal.
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Quando escrevi a crítica de A Menina do Fogo, alguns meses atrás, destaquei que o filme vislumbrava a si mesmo de forma assumida, como uma petiscaria aos fãs famintos pela glória do Snydergod, como o chamam. A promessa de uma saga à lá Star Wars fez crescer a ânsia por mais um filme-evento à moda Snyder, mas o que se viu foi uma introdução repleta de… introduções. Agora, com o retorno ao vilarejo lunar que se rebela contra o Império o Mundo Mãe, as coisas se desenvolvem melhor e o universo começa de fato a crescer. Snyder dá alguma profundidade aos personagens, mesmo que só até os joelhos, e revolve sua máxima de apreciação da didática de combate em câmera lenta com algum objetivo minimamente contemplativo.
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Muito da estrutura do filme remete, de um modo meio estranho, aos dois filmes da franquia “Avatar” (2009/2022). Até a música de Tom Holkenborg em algumas passagens inculca aos tons épicos da trilha de James Horner, além de alguns recortes de roteiro que podem ser postos em paralelo para comparação. De um modo mais amplo, esse segundo filme é mais bem elaborado narrativa e artisticamente, com um ar mais coeso dentro de sua própria proposta e uma jornada bem mais satisfatória do que uma promessa vaga de continuidade – promessa essa que existe aqui também, mas não ofusca o arco que necessitava ser concluído.
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A movimentação do filme é provinda da observação do trabalho como fonte literal de sobrevivência. Camponeses fazem sua colheita e usam os grãos como barricadas; guerreiros manejam armas e arquitetam estratégias de defesa e ataque; oficiais lideram tropas ao deus dará e subalternos se comprometem em fazer o maior número de vítimas possível. Tudo ossos do ofício, ócios de combate, sacrifícios em nome de causas que Snyder filma de perto com uma admiração ferrenha aos heróis anônimos e aos renomados. Paira sobre todo o filme um tipo de pesar agradecido por todos aqueles que ainda vão morrer, como se o diretor desse um mea-culpa aos personagens que criou para poder, por fim, matá-los. É como se ele quisesse ouvir deles um permissivo “eu te perdoo”.
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Apesar de alguns pesares, Snyder conseguiu passar a ideia de que esse segundo capítulo faz sim parte de um universo muito maior. Pode ser que eu volte a ser um dos devotos dele, quem sabe. Claro, devoção não inibe contestação, e questiono por diversas vezes algumas escolhas que Snyder prescreve à tela, mas dessa vez a diversão despretensiosa com manias de grandeza que me foi entregue agradou e deixou um gostinho de quero mais, como todo bom e velho filme pipoca. No fim do dia, assistir “Rebel Moon: A Marcadora de Cicatrizes” é apreciar o descompromisso e abraçar tudo que Zack Snyder tem de melhor e de pior. Aguardemos as versões estendidas.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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