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“Saltburn”: Barry Keoghan brilha em intrigante thriller erótico cheio de suspense | 2023

A aristocracia inglesa inspirou grandes filmes, com alguns cineastas que marcaram a carreira com obras desse tipo, como James Ivory, que além de retratar imagens suntuosas de palácios, festas e banquetes, também captou nuances de decadência dentro desse modo de vida anacrônico. Nos últimos anos se tornou mais comum abordar esse estilo de vida de maneira satírica. Embora a sátira às classes mais altas não seja uma novidade — Luis Buñuel, por exemplo, criou obras-primas que zombam da burguesia — hoje, mais do que nunca, esse olhar jocoso em relação aos mais ricos tornou-se uma tendência. Em “Saltburn”, Emerald Fennell demonstra mais uma vez sua habilidade em trabalhar o cômico e o trágico em perfeita sintonia. Se essa capacidade já havia chamado a atenção em “Bela Vingança” três anos atrás, neste novo projeto ela eleva o tom agridoce a níveis ainda mais impactantes.

Na trama, acompanhamos Oliver Quick (Barry Keoghan), um jovem recém-admitido na renomada Universidade de Oxford. Solitário e introspectivo, Quick enfrenta dificuldades para se enturmar e nutre uma admiração secreta pelo popular Felix (Jacob Elordi). O destino intervém quando Quick socorre Felix em uma emergência, resultando em uma aproximação que culmina no irrecusável convite para passar as férias de verão na mansão da família de Felix. Contudo, o que inicialmente parecia um sonho revela-se o ponto de partida para uma série de eventos perturbadores que deixarão marcas na vida de todos que habitam naquele lugar.

Os thrillers geralmente envolvem narrativas repletas de elementos como perigo iminente, mistério, intriga e reviravoltas . “Saltburn” não apenas incorpora todos esses ingredientes, mas também adiciona uma pitada de sensualidade. A trama brinca com os grandiosos cenários que, embora pareçam ser o local dos sonhos, revelam-se permeados de luz e sombra em cada canto. Este aspecto, habilmente destacado pela cinematografia, persiste ao longo de toda a projeção, intensificando a atmosfera de tensão. No entanto, esse sentimento não é desenvolvido de maneira uniforme, resultando em saltos em vez de uma progressão gradual. Isso, por sua vez, faz com que o filme, especialmente na primeira metade, navegue em águas aparentemente calmas, mornas e, por vezes, monótonas.

Apesar de toda a estética do filme ser notável, a força de “Saltburn” está no elenco. Barry Keoghan, mesmo com a pouca idade, tem entregue performances dignas de um veterano e, sem dúvida, é um dos destaques da temporada. Após receber elogios por sua atuação em “Os Banshees de Inisherin”, ele mais uma vez brilha em um papel completamente diferente. Enquanto seu personagem anterior era um jovem mentalmente confuso e incapaz de internalizar suas opiniões e traumas, aqui ele transita da inocência à manipulação com igual segurança. Jacob Elordi é outra estrela em ascensão, adicionando mais um excelente trabalho ao seu currículo, como demonstrou também em “Priscilla” neste ano. Apesar de ter menos tempo de tela, Rosamund Pike entrega o necessário, contribuindo para a atmosfera de suspense ao inserir um toque de loucura e alienação.

A coragem é uma característica ambígua. Se, por um lado a admiramos por nos tirar do lugar comum, por outro, esse desvio de rota geralmente atinge um ponto de incômodo que inevitavelmente divide o público, criando o já conhecido dilema “ame ou odeie”. De fato, “Saltburn” não foi concebido para agradar a todos e a polarização de opiniões torna-se uma consequência da coragem de Emerald Fennell de subverter expectativas, criando uma trama robusta e despertando a atenção para a tão rara arte de provocar.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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