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“Os Rejeitados”: Paul Giamatti é o destaque de filme natalino melancólico sobre solidão em um internato | 2023

Existe sempre uma grande expectativa, entre os cinéfilos, quando o diretor Alexander Payne vai lançar sua próxima obra. Mestre em criar personagens com camadas de complexidade e compor histórias que mexem com sentimentos dos mais diversos, Payne consegue tanto dar vida em seus roteiros a uma adolescente de Ensino Médio detestável como a Tracy Flick (Reese Witherspoon), no cult ‘Eleição’ (1999), como nos arrebatar com a história de um idoso em crise existencial como o Warren Schmidt (Jack Nicholson), em ‘As Confissões de Schmidt’ (2002).

Payne chegou a fazer em 2004 uma pequena jóia na sua cinematografia, ‘Sideways: Entre umas e Outras’, que contava com a parceria deliciosa dos atores Paul Giamatti e Thomas Haden Church. E é justamente para Giamatti que Payne resolve entregar de bandeja o papel do professor rabugento de um internato em New England no novo filme “Os Rejeitados”, obra que parece já criar um buzz na temporada de premiações.

A premissa do filme é simples: Durante o recesso natalino de um internato, em 1970, o professor Paul Hunham, detestado por todos os alunos e docentes, precisa cuidar dos serviços do campus e criar atividades para alunos, que pelos mais diversos motivos, passarão o feriado natalino nas dependências da escola. Um dos alunos é o problemático Angus Tully, interpretado pelo estreante Dominic Sessa. Tully é fruto de pais separados e sua mãe decide viajar com o padrasto ao invés de passar a data com ele, forçando-o a ficar junto aos outros “rejeitados” no campus.

Para completar a lista, a cozinheira Mary Lamb (Da´Vine Joy Randolph) fica encarregada de providenciar a comida dos alunos e passa por esta difícil data enlutada, já que seu filho recém faleceu na Guerra do Vietnã. Dessa forma, esses mais variados personagens dilacerados ou feridos pela própria vida encontram-se presos dentro do internato durante um inverno rigoroso de dezembro.

É esse choque de convivência entre o triângulo formado por Paul, Angus e Mary que movem o filme em um dos dramas mais sólidos e humanos da temporada. Com diálogos afiados e um show de interpretação a cargo dos três atores, “Os Rejeitados” bebe na fonte de filmes dos anos setenta, com uma reconstituição de época precisa e trilha sonora apurada com músicas de Cat Stevens e Labi Siffre.

É impressionante Dominic Sessa carregar o peso emocional do personagem Angus com tanta maestria sendo seu filme de estreia na carreira. Se existem listas de “Revelação do ano”, certamente Sessa deve compor e ganhar este reconhecimento. Enquanto isso, uma atriz expert em papéis coadjuvantes como Da´Vine Joy encontra o tom corretíssimo entre o humor e o farrapo emocional em que oscila ante a morte de seu único filho.

Paul Giamatti talvez tem aqui a atuação de sua vida! O ator por anos realiza papéis de destaque como coadjuvante e aqui tem a oportunidade de dominar o longa do começo ao fim, seja pelo seu arco dramático riquíssimo que começa o filme de um jeito e termina de outra forma tão humana, bem como faz uma ginástica física ao retratar o personagem com estrabismo, sem ser estrábico na vida real. É uma composição digna de celebração dos prêmios mais importantes de atuação da temporada.

Cabe destacar que o roteiro do filme é de autoria de David Hemingson, roteirista bastante produtivo no campo televisivo de sitcons cômicas e desenhos animados, o que ganha contornos ainda mais impressionantes ele sair com um roteiro tão robusto e dramaticamente sólido dado seu histórico de carreira. “Os Rejeitados” pode não ser a sua escolha ideal de filme natalino leve para deixar a família em clima de festividades, mas é certamente uma ótima reflexão sobre se sentir inadequado e marginalizado no mundo, sentimento que aflora em épocas como o Natal. Sempre é possível dar a volta por cima e ainda mais se você encontra semelhantes nessa jornada, talvez seja sobre esta “faísca” que o filme queira tratar.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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