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“Névoa Prateada”: Com grande atuação de Vicky Knight, longa é jornada de paixão e cura | 2024

O Cinema Queer explora temas da comunidade LGBTQIA+, abordando as complexidades das experiências de gênero e sexualidade. Ainda que seja uma expressão vital para visibilidade e frequentemente se entrelace com discussões sobre política, identidade e resistência, há uma crescente demanda na comunidade por filmes que tragam essa representatividade de maneira mais naturalizada, evitando, portanto, temas sensíveis à causa. No entanto, a relevância do tema torna-o delicado. Dito isso, “Névoa Prateada” se torna um exemplar de superficialidade. Ao tentar abordar múltiplas problemáticas, peca por sua ambição desmedida. O resultado é uma trama cansativa e dispersa, que tenta abarcar tudo e, consequentemente, não consegue desenvolver de forma eficaz absolutamente nada.

Na trama acompanhamos Franky (Vicky Knight), uma enfermeira de 23 anos. Obcecada por vingança e tentando a todo custo encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento sério, até que se apaixona por Florence (Esme Creed-Miles), uma das pacientes do hospital onde trabalha. As duas decidem fugir para o litoral, onde Florence vive com um pequeno grupo que a acolheu. Nesse novo ambiente, Franky encontra o refúgio emocional necessário para reconciliar-se com seu passado.

Embora não exista uma regra, é típico no cinema que a trama se desenvolva em arcos distintos que se entrelaçam, e é justamente aqui que “Névoa Prateada” começa a enfrentar problemas. A narrativa tenta equilibrar múltiplas linhas, começando pela superação de traumas passados e que aos poucos adiciona camadas identitárias, religiosas, de saúde mental, um mal incurável, abuso físico e psicológico, rejeição familiar, preconceito… O resultado é uma história que parece não saber para onde vai, constantemente chegando a lugar nenhum.

A atuação de Vicky Knight é certamente um destaque, mas a qualidade de um filme não depende de uma única personagem. Apesar de Knight entregar reações convincentes, a sequência dessas reações parece fragmentada, comprometendo a coesão. Além disso, ainda que Franky seja uma adulta, o roteiro conduz seu comportamento de maneira que mais se assemelha ao de personagens adolescentes, o que destoa do tom geral adotado. Afinal, trata-se de jovens em formação ou sobre conflitos da idade adulta? O texto não deixa claro.

Por mais que qualidade e profundidade não sejam sinônimos, um longa, quando se aventura para além do superficial,  assume uma responsabilidade ética. Isso é crucial porque um discurso vago pode diluir assuntos importantes e esvaziar pautas relevantes. Nesse contexto, “Nevoa Prateada”, infelizmente , mesmo com boas intenções, é uma obra cinematograficamente medíocre e politicamente vazia.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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