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“Sem Coração” : Coming-of-age com DNA nordestino é diverso e tocante | 2023

‘Sem Coração’, o único longa brasileiro que esteve em competição no Festival de Veneza no  ano passado, foi também um dos grandes destaques na Premiére Brasil no Festival do Rio. A trama sob a direção de Nara Normande e Tião  nos leva para dentro dessa roda de adolescentes que passam por transformações comuns à idade, mas também nos leva aos traumas, para as aventuras e as iminentes separações. Mudanças essas que esses jovens levarão  por toda uma vida e que consequentemente moldarão o caráter de cada um deles.
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Na trama, que se passa em Alagoas no verão de 1996, seremos apresentados a Tamara (Maya de Vicq), que está aproveitando suas últimas semanas na vila pesqueira onde mora, antes de partir para estudar em Brasília. Um dia, ela ouve falar de uma garota apelidada de ‘Sem Coração’ (Eduarda Samara) por causa de uma cicatriz que ele tem no peito. Ao longo do verão Tamara sente uma atração crescente por essa menina misteriosa,  que tem relações sexuais com os garotos do lugarejo e que tem anseio de seguir o pai pescador em suas atividades no mar.
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O longa que é uma espécie de continuação de um curta de 2014, também da dupla de diretores, nos leva pelas linhas de um ‘coming-of-age’ de DNA brasileiro com profunda sensibilidade, atravessando discussões que vão desde a descoberta do sexo e da sexualidade, até os desvios de caráter e do turbilhão de sentimentos, represálias e preconceitos que emergem quando a liberdade de ser quem se é vem à tona.
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Inspirado nas memórias de infância da cineasta, o longa ainda reserva espaço considerável para uma afiada crítica social, seja de forma literal, como quando em uma sequência é narrada por uma tevê qualquer a morte de Paulo César Farias, antigo tesoureiro do ex presidente Fernando Collor de Mello, ou ainda pelas mansões em ruínas à beira mar, que são povoadas pelas brincadeiras desses mesmos adolescentes que são de famílias e classes sociais diferentes e que lidam lindamente com as diferenças uns dos outros. ‘Sem Coração’ é um título um tanto curioso, e eu diria até irônico, quando pensamos na trajetória desses jovens e no mundo violento e maldoso que está ao redor deles.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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