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“Ruim pra Cachorro”: Comédia escrachada usa bom humor para debater abandono e relações tóxicas | 2023

Vamo arrancá uma salsicha?

Fazia tempo que um filme tão non-sense chegava aos cinemas com um alcance de salas tão amplo como ‘Ruim Pra Cachorro’ conquistou. Antes de qualquer coisa, fica o aviso aos pais e responsáveis de que essa comédia de animais falantes, que parece mais um dos tantos filmes da Disney com essa mesma premissa, na verdade não tem nada de infantil. É bom deixar esse comentário porque anos atrás muitos desavisados levaram as crianças para assistir ‘Festa da Salsicha’ (2016) e saíram escandalizados do cinema – como se a classificação indicativa e a sinopse estivessem lá de enfeite. Feito o aviso, vamos ao que interessa: minha reação mais honesta enquanto eu assistia ao filme consistia na verbalização de uma única indagação: “mas que porra é essa?”.

Acontecem coisas tão absurdas durante a 1h30 de exibição que é quase inacreditável que um filme tão politicamente incorreto tenha conseguido ser feito em meio ao inquieto debate sobre os limites do humor. Eu, enquanto apreciador de humores depreciativos e questionáveis, degustei com surpresa o sabor da irreverência que esse filme evocou e me vi abismado com a forma como os subtextos das piadas abrem leques de possíveis críticas sociais além da obviedade abordada no abandono animal e em relacionamentos tóxicos.

Embora o humor que o filme traz não seja do gosto de todos, há de se aplaudir a coragem dos realizadores em fazer um filme com potencial tão polêmico nos tempos do dito “mimimi” das redes sociais. O filme é ofensivo, escroto, nojento e repugnante em vários de seus minutos – mas existe um propósito no choque que tudo isso promove.

Com uma dublagem brasileira que abraça os humoristas para englobar o tom e o timing que o roteiro demanda, o filme ganha ainda mais força ao referenciar a nossa cultura e aproximar a nossa realidade da jornada dos quatro cães que partem em uma viagem que tem a vingança como objetivo. É um roadmovie fora do convencional, que se faz valer principalmente por se negar a ser mais do mesmo e se diferencia justamente pela quebra da expectativa que se forma em torno de um filme de cachorros falantes. Tire as crianças e as pessoas mais sensíveis da sala, porque nesse filme o negócio é mais embaixo do que você pode imaginar.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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