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Oscar 2024: o que a premiação nos diz sobre a indústria

Surpresas, tendências e nostalgia

O Oscar 2024 trouxe consigo uma diversidade louvável à sua cartela de selecionados. Alguns títulos, é claro, já eram “pedras cantadas” em algumas categorias (como ator coadjuvante para Robert Downey Jr.), mas ainda assim essa pluralidade de concorrentes viabilizou uma notoriedade maior para filmes como “Rustin”, que foi indicado na categoria de atuação principal masculina pela performance de Colman Domingo. Contudo, a noite conseguiu surpreender em algumas das disputas e proporcionou um vislumbre daquilo que tende a ser o futuro da indústria desde já.

A vitória de “Godzilla: Minus One” é um ótimo exemplo desse indicativo. Não era o filme com os melhores efeitos visuais, mas ainda assim conquistou sua estatueta. O prêmio, nesse caso, é mais pelo mérito de “tirar leite de pedra” do que pela impecabilidade do resultado final. O épico japonês com um orçamento limitado (algo em torno de 1/20 do orçamento do vencedor anterior, “Avatar: O Caminho da Água”) mostrou que menos é mais e se bastou para proporcionar uma obra eficiente e com uma qualidade louvável. É bem provável que haja uma revisão no uso dos efeitos (que tem sido cada vez mais gratuitos e/ou vazios) na indústria daqui pra frente para que seu uso seja em prol da narrativa e não somente para ostentar os tantos milhões investidos nesse departamento.

Outra surpresa foi maquiagem e cabelo ter ido para “Pobres Criaturas”, que é um filme fantástico e que provavelmente (e justamente) por isso não teria chances contra o trabalho eximiamente elaborado pela equipe de “Maestro”, que conseguiu rejuvenescer e envelhecer gradativamente o casal interpretado por Bradley Cooper e Carrey Mulligan – mas não só teve chances como ganhou. Além dele, surpreendeu também que “O Menino e a Garça”, de Hayao Miyazaki, batesse o excelente “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”. Foram vitoriosos dois dentre os três filmes japoneses indicados nessa edição (“Godzilla Minus One”, “O Menino e a Garça” e “Dias Perfeitos”, que não foi páreo para “Zona de Interesse” na disputa de melhor filme internacional).

Mais uma vez, Scorsese e seu filme de 3h30 saem de mãos abanando, repetindo o feito de “O Irlandês” em 2020. Outros que também não foram laureados dentre os indicados a Melhor Filme além de “Assassinos da Lua das Flores” foram “Vidas Passadas” e “Maestro”, enquanto outros quatro dentre os dez foram contemplados com apenas um prêmio: “Barbie” com canção original, “Ficção Americana” com roteiro adaptado, “Anatomia de uma Queda” com roteiro original, e “Os Rejeitados” com atriz coadjuvante.

O grande vencedor da edição foi “Oppenheimer”, que levou sete prêmios (filme, diretor, ator, ator coadjuvante, trilha sonora, fotografia e montagem/edição), seguido por “Pobres Criaturas”, que deu o segundo Oscar para Emma Stone e levou também figurino, design de produção e o já citado maquiagem e cabelo. A vitória de “Oppenheimer” representaria uma retomada à era do cinema espetáculo? Seria uma tendência de retomada aos filmes-evento? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…

Ludwig Göransson conseguiu em cinco anos o feito que Hans Zimmer demorou quase trinta para alcançar: a conquista do segundo Oscar. Billie Eilish e Phineas também conquistaram seu segundo Oscar após apenas dois anos da conquista do primeiro – enquanto a icônica Diane Warren continua só no sonho após décadas de tentativas. E na briga entre Homem de Ferro e Hulk pela estatueta de melhor ator coadjuvante, repetiu-se o visto em “Vingadores: Era de Ultron” e a vitória ficou com Tony Stark. Christopher Nolan, um queridinho da indústria, finalmente conquistou seu lugar no hall dos diretores eternizados com um Oscar. Mas isso já era esperado, o que surpreendeu mesmo foram outras coisas meio fora do roteiro.

Teve flerte político do apresentador Jimmy Kimmel com uma alfinetada no peito de Donald Trump após o ex-presidente ter feito uma postagem sobre sua performance como anfitrião do Oscar, teve cutucada dupla ao filme “Madame Teia” na primeira apresentação da noite e no anúncio de melhor som, e teve também Al Pacino entregando o Oscar sem anunciar a icônica frase “and the Oscar goes to…”. Todavia, a emoção foi o que mais valeu a edição, que abraçou a nostalgia e trouxe vinte performistas vencedores de outras edições para apresentarem os indicados aos prêmios principais e coadjuvantes de atuação masculina e feminina.

Sendo assim, fica a pergunta: o que o Oscar, em sua 96ª edição, tem a nos dizer sobre o cinema do futuro breve? A resposta, em uma rápida leitura sobre a disposição dos prêmios, é que existe espaço para atuações mais físicas e também para as mais contidas; que é necessário o reconhecimento de quem faz um bom trabalho mesmo com limitações de recursos; que a imaginação e a reimaginação seguem tendo espaço nas categorias técnicas; e que boas ideias valem muito mais do que orçamentos gigantes.

Por fim, este foi um Oscar que, apesar de bem previsível, conseguiu deixar espaço para algumas surpresas, belíssimos discursos antiguerra (tanto no tapete vermelho quanto no palco, com a entrega do prêmio de melhor documentário para “20 Dias em Mariupol”) e momentos engraçados que cativaram bem mais do que as edições anteriores. Seja por John Cena apresentando melhor figurino ou a já inesquecível performance de Ryan Gosling cantando “I’m Just Ken” com o elenco de Kens do filme da esnobada Greta Gerwig, o Oscar 2024 foi satisfatório e bem diversificado em suas categorias e seus vencedores. As críticas você encontra aqui no Papo, na guia principal ou na guia de arquivos.
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Parabéns aos vencedores e que venha o Oscar 2025!

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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