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Especiais do Papo

6 Curtas imperdíveis pra ver no streaming!

Tem dias em que a gente está com pouco tempo mas mesmo assim quer ver algo que divirta ou emocione. Não se preocupe, nós do Papo de Cinemateca estamos aqui pra facilitar sua vida com listas para todos os gostos. E essa de hoje é uma listinha com 6 curtas-metragens imperdíveis a um click de alcance. É só pegar a pipoca e dar o play.

“Era Uma Vez Um Estúdio” (2023), disponível no Disney Plus

“Quando você faz um desejo para uma estrela, seus sonhos se tornam realidade”. Bem antes de “O Segredo” se tornar popular e conhecido do grande público, Walt Disney já pregava que tudo o que você desejar, não importa o quão louco seja, se tornará realidade se você tiver a coragem de perseguir o seu sonho. E é com esse lema que ele construiu um império de sonhos, entretenimento e magia que nos encanta até hoje, e que está fazendo 100 anos. E para comemorar o centenário da Disney, o estúdio lançou o curta-metragem de 9 minutos “Era Uma Vez Um Estúdio”.

Entre tantos e tantos personagens queridos, foram selecionados 573 para desfilar no curta que é uma homenagem e uma declaração de amor ao estúdio. Mickey, Pato Donaldo, Pluto, passando por Elsa, Capitão Gancho, Sininho, Moana, as Fadas Madrinhas, Pateta; a constelação é gigante, assim como o amor que o público nutre por esses personagens.

A obra mescla cenas reais, desenhos feitos à mão e imagens digitais e emociona com os personagens que tem a mesma voz original, saindo dos quadros do estúdio para posaram pruma foto histórica em frente ao estúdio.
Em 16 de outubro de 1923, Walt Disney e seu irmão Roy – que havia fundado os Estúdios Disney Brothers em uma garagem em Hollywood – assinaram um contrato de distribuição exclusivo para os “Alice Comedies”, curtas-metragens que seguiam uma menina real em um mundo animado. O ratinho Mickey surgiu em 1928, como resposta ao controle da Warner sobre Oswald, o coelho sortudo, um personagem que prometia muito, mas que depois caiu no esquecimento. O resto é história, uma história de sucesso das mais lindas, pois a Disney faz parte da vida da gente e das nossas memórias afetivas, todo mundo tem um personagem e um desenho favorito. Que venham mais 100 anos de sonhos realizados!

“E Depois?” (2023), disponível na Netflix 

Na trama acompanhamos Dayo, um homem que passa por um luto profundíssimo depois de perder sua família numa tragédia. Ele largou o emprego e passou a trabalhar como motorista de aplicativo, onde passa os dias mergulhado numa névoa de tristeza, tentando se distrair com as conversas dos passageiros, mas o tempo não passa e os dias continuam doloridos.

Mergulhamos nessa dor imensurável do protagonista e na sua visão de um futuro vazio e desnorteado, ele não sabe o que será do amanhã, o que fazer ou como seguir em frente. Até que um ato de compaixão faz tudo explodir num ótimo ato final. Indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em Live-Action, “E Depois?” causa impacto e emociona em 18 ótimos minutos.

“Absorvendo o Tabu” (2019), disponível na Netflix 

Acredite se quiser: estamos em pleno século 21 e ainda existem lugares como a Índia rural onde a menstruação é um tabu, um fenômeno natural desconhecido pelas próprias mulheres, que não tem noção do por quê ele ocorre (“é um sangue sujo que sai da gente”) e ainda mais pelos homens que pensam ser uma doença ou maldição. É esse o cenário do documentário “Absorvendo o Tabu”, ganhador do Oscar de Melhor Documentário Curta- Metragem.

A invenção do absorvente feminino na década de 30 como o conhecemos hoje, sem dúvida melhorou a qualidade de vida das mulheres, que antes usavam paninhos dobrados tipo uma fralda para conter a menstruação. Antes não, em lugares paupérrimos e subdesenvolvidos como essa vila rural em Nova Delhi, panos sujos e até folhas são usados, pois as mulheres não conhecem um absorvente ou simplesmente não podem comprar um. Muitas vivem com o sangue escorrendo, precisam largar os estudos e são proibidas de rezar quando menstruadas, ou seja, tem uma vida inteira tolhida por falta de um artigo básico de higiene.

O que parece mágica acontece nessa aldeia: um engenheiro empreendedor instala, com a ajuda da ONG “The Pad Project” (que também produziu o curta) uma máquina pra fabricação de absorventes higiênicos de baixo custo, e chama moradoras locais pra trabalhar na fabriqueta. E essas mulheres, em sua maioria donas-de-casa e agricultoras, lutam pra desmistificar a menstruação: produzem, levam conhecimento a outras mulheres, vendem e divulgam o produto inovador de aldeia em aldeia.

“Absorvendo o Tabu” mostra esse belo exemplo de emancipação feminina na sociedade antiquada e patriarcal da Índia, um ambiente absolutamente machista e opressor onde ser mulher parece ser um castigo. É emocionante ver mulheres que pela primeira vez na vida ganham um dinheirinho com o seu trabalho (não que não trabalhassem antes, pois elas ralam muito); horizontes se abrem e desencadeiam uma revolução em suas vidas, pois dinheiro gera independência, planos e liberdade, conceitos antes nunca imaginados por elas. “Absorvendo o Tabu” traz 26 minutos que nos fazem refletir o quanto ainda é preciso lutar pelo empoderamento e avanço global das mulheres.

“Dois Estranhos” (2020), disponível na Netflix 

“Eu não consigo respirar! Eu não consigo respirar!” Depois do abominável assassinato do americano George Floyd nos EUA em 2020, morte que acarretou uma onda de protestos ao redor do mundo, a questão do preconceito racial que parece não ter fim, precisa mais do que nunca ser colocada em foco. Um negro parado como suspeito de um crime apenas pela cor de sua pele e estrangulado até a morte por um policial branco – mais uma das milhares de vítimas de policiais que cometem abuso de poder por puro racismo.

Vencedor do Oscar de Melhor Curta em Live-action, “Dois Estranhos” usa do recurso do “loop temporal” (aquele dia que se repete infinitamente) para colocar o dedo na ferida da truculência policial contra negros e incomoda bastante com essa temática sempre revoltante.

Carter é um rapaz negro, um cidadão de bem que um dia acorda na casa da sua crush, ele só quer ir embora cuidar do seu cachorro, mas no caminho ele encontra um policial branco e é baleado. O ciclo de violência se repete indefinidamente, não importa o que Carter faça pra tentar modificar aquele dia infernal; a violência não cessa, pelo contrário, ela parece cada vez pior no dia seguinte, pois o problema é sua cor, só isso. Estamos diante de uma vítima negra e de um algoz branco, um que só quer chegar a salvo em casa e tocar a vida, e o outro que só quer destruir e destilar ódio.

A trajetória do protagonista Carter se reproduz à exaustão pra que não nos esqueçamos das tantas histórias e vítimas de violência racial que acontecem diariamente mundo afora. “Dois Estranhos” traz uma reflexão dolorosa e certeira sobre a violência racial, uma análise obrigatória em momentos de ebulição social e ondas de violência ao redor do planeta: Por quê tanto ódio, por quê? Apesar de ter apenas 32 minutos, “Dois Estranhos” é um filme grandioso que nos deixa sem fôlego e não acaba quando termina, ele perdura por dias em nossa memória.

“Canvas” (2020), disponível na Netflix

Todo artista um dia sentiu bloqueio criativo e desconexão com sua arte. A animação em curta-metragem “Canvas” conta a história de um avô que, após uma grande perda, não tem mais vontade de seguir com a vida e principalmente com sua arte, a pintura. Até que sua netinha começa a visitá-lo e algo muda.

A dor e o vazio do luto muitas vezes parecem insuperáveis, mas só parecem, às vezes um pequeno estímulo revestido de amor e simplicidade pode trazer à tona a paixão pela vida. Frank. E. Abney III , que produziu o belo e oscarizado “Hair Love” , é o diretor e roteirista de “Canvas”, que tem apenas 9 minutos mas passeia por sentimentos diversos que qualquer pessoa tem medo de enfrentar: luto, vazio e insegurança diante de uma nova realidade. Guardada as devidas proporções podemos fazer um paralelo com a loucura que se tornou nossas vidas depois da pandemia, cheias de desafios e novidades obrigatórias para que possamos sobreviver e ressignificar a vivência como um todo.

“Canvas” é um pequeno grande filme sobre amor e recomeço que diz muito sem uma única palavra. E nem precisa, a expressividade e delicadeza das imagens são suficientes para nos emocionar.

“Perdoai as Nossas Ofensas” (2022), disponível na Netflix

Se existe um lugar de castigo pós-morte pior que o inferno, certamente é lá que Hitler está, pois as atrocidades cometidas pelos nazistas no Holocausto são tantas e tão abomináveis que é muito difícil imaginar qual sentença seria a mais justa.

A filosofia Nazista pregava que o povo alemão era a raça ariana superior a todas a outras, e que o povo judeu era inferior e por isso deveria ser dizimado da face da terra. Só que entre os próprios alemães existiam pessoas inferiores, com deficiências físicas ou mentais e necessidades especiais, e por isso custariam mais para serem mantidas pelo governo alemão, daí foi criado o programa Aktion T4 para resolver esse inconveniente. Tal programa servia para eugenizar a raça alemã, e através dele foram assassinados (“eutanásia” segundo os higienistas raciais) 400 mil deficientes por medicação, fome ou nas câmaras de gás, e 300 mil foram esterilizados pra que não gerassem filhos iguais a eles.

Em “Perdoai-nos as Nossas Ofensas”, curta original da Netflix dirigido por Ashley Eakin, conhecemos um período dramático da vida do garoto Peter, que não tem parte de um braço e por isso não é tolerado pelo sistema. Sua mãe é professora e tem que ensinar ao próprio filho que deficientes custam muito mais pro governo nazista e por isso são descartáveis. Os poucos minutos iniciais numa cena na sala de aula resumem os absurdos pregados pelo regime nazista e a resiliência do garoto naquele meio hostil. Um dia os oficiais batem à porta deles e na fuga uma reviravolta acontece. A ação é rápida mas eficaz, com tensão e diálogos incisivos “Nenhum cálculo pode medir o valor de uma vida”, e o final, apesar de aberto, é catártico.

Um curta-metragem avassalador em emoção e reflexões, pois o preconceito contra pessoas especiais só recentemente deixou de ser um tabu e começou a ser tratado abertamente pela sociedade e pela mídia. Hoje se discute e se exige o acesso tanto físico quanto intelectual de qualquer pessoa portadora de deficiência, felizmente a inclusão social é a regra e não mais a exceção. No entanto, apesar de toda essa transparência, sabemos que muita gente pensa o contrário, ainda que veladamente, e queria que a discriminação fosse tolerada. O ser humano costuma ser vil com o seu semelhante, assim leis e regras morais precisam existir pra conter a maldade.

Peter simboliza todos os deficientes que por sorte sobreviveram ao extermínio nazista, e todos os que estão aqui para reivindicar seu lugar e direitos no mundo. O Holocausto é uma das mazelas mais terríveis da humanidade, e deve ser sempre lembrado, seja através de que olhar for, para que então nunca mais se repita.

Karina Massud

Formada em Direito, cinéfila desde os 5 anos de idade, quando seu pai a levou para assistir “Superman-o Filme”. Cachorreira, chocólatra, fã ardorosa de séries, músicas, literatura e tudo que emocione.

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