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“Nauel e o Livro Mágico”: Coprodução Brasil/Chile cativa com estética deslumbrante | 2024

Vamos menino, isso deixa o meu braço cansado.

O mundo está descobrindo que o cinema feito pelo método da animação vai muito além dos filmes com o estilo Disney/Pixar. Depois do lançamento de ‘Homem-Aranha no Aranhaverso’ (2018), percebeu-se que a abordagem 3D, já um tanto saturada pelos excessos de títulos lançados anualmente, poderia ser mesclada a outros estilos visuais para compor uma abordagem única e, assim, criar uma identidade visual distinta. Filmes como ‘Gato de Botas 2’ e ‘As Tartarugas Ninja: Caos Mutante’, ambos lançados nos cinemas brasileiros em 2023, são frutos daquela constatação que o mercado teve anos atrás.

A “abertura” da visibilidade de outros estilos fez retornar a onda do 2D, tido como o estilo mais clássico de desenhos animados. Com isso, temos o excelente ‘Meu Amigo Robô’ e o já premiado ‘O Menino e a Graça’ competindo ao Oscar da categoria em 2024. O cinema de animação do Brasil não fica para trás e tem se mostrado igualmente competente – e belo – na criação de seus filmes, com um destaque merecidíssimo para ‘Nauel e o Livro Mágico’, que é coproduzido com o Chile.

Os contornos lembram em muito os clássicos desenhos japoneses que crescemos assistindo na TV aberta, mas sem os traços exagerados e caricatos que atenuam as expressões emocionais; aqui as linhas são mais nítidas e verossímeis, com uma sutileza que de longe lembra as obras do belga Hergé. Com um roteiro carismático de aventura infantil e uma abordagem obstinada sobre os receios juvenis, o filme se desenvolve em torno do garoto cujo nome dá título à obra enquanto ele lida com as consequências do furto inusitado de um livro mágico, que ele levou consigo com a intenção de tirar de si o próprio medo – que nesse caso é o mar, que é também de onde seu pai tira o sustento da família.

A trama se transforma numa fábula de resgate quando o pai do garoto é capturado por um bruxo maligno que quer fazer uso do livro mágico (algo clichê, deve-se assumir) para fins igualmente malignos, e é a partir daí que se dá a jornada de amadurecimento do pequeno Nauel. Temos aqui bruxos, curandeiros, seres míticos, animais transmorfos e muita magia – e não vale o discurso preconceituoso clássico contra essas crenças para a mitologia apresentada aqui, pois a Disney apresenta bruxaria em seus filmes desde sempre e todo mundo assiste.

A bruxaria da vez é oriunda das crendices sul-americanas, com um toque charmoso de descoberta que o fim da infância acomete e uma noção de risco e determinação que, com o perdão do trocadilho, é encantadora. É um filme bem menos desatinado do que ‘A Viagem de Chihiro’ (2001), mas ainda assim com um teor curioso de insanidade que lhe permeia.

Cativante e visualmente muito belo, o filme entrega uma experiência virtuosa ao público infantil e deslumbra os amantes da animação com sua estética calorosa e refinada. É um título e tanto para agregar ainda mais valor às animações sul-americanas, especialmente as feitas por produtoras brasileiras. Vale muito a pena prestigiar.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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