“Do Outro Lado da Dor”: Longa traz reflexões sensíveis sobre o processo do luto | 2024
De acordo com a Psicologia, o luto pela perda de uma pessoa muito querida começa a se dissipar depois de um ano da morte dela. Não significa que uma chave vai virar nessa data, pois o processo do luto é cheio de altos e baixos, e sim que o enlutado aos poucos vai saindo da tristeza, sentindo conforto com as boas lembranças de quem se foi, e tocando a vida com mais alegria e planos. É o que faz Marc, o protagonista de “Do Outro Lado da Dor”: depois de perder seu marido tragicamente na noite de Natal sua vida fica sem rumo, mas depois de um ano de baixo astral ele resolve reagir e passar um final de semana em Paris com seus melhores amigos.
Dan Levy, ator e criador de comédias, e quatro vezes vencedor do Emmy, faz uma bela estreia como diretor como parte de um contrato para filmes e séries na Netflix com o longa “Do Outro Lado da Dor”. Ele vive o protagonista Marc, um pintor e ilustrador que abafou sua carreira para viver um casamento perfeito com Oliver, um escritor/celebridade cujos livros viraram uma franquia de filmes de grande sucesso. Quando ele decide sair da inércia do luto e ir para Paris com Sophie e Thomas numa viagem divertida e ao mesmo tempo sofrida, a vida de todos começa a tomar novos e bons rumos.
Usando como pano de fundo os belos cenários urbanos de Londres e Paris, apartamentos descolados e as luzes de Natal, Levy traz à tona temas espinhosos como traição, desencontros e luto, porém com uma atmosfera leve garantida pela solidariedade e o amor dos amigos que aquecem o coração de quem acha que tudo está perdido. Quem tem amigos leais sabe da importância deles, há alguns desentendimentos, mas principalmente momentos de alegria e risadas; amores podem passar, mas afeto de amigos, jamais.
O ótimo elenco traz brilho a uma narrativa simples mas que espelha situações comuns a muitos através dos detalhes do casamento de Marc e Oliver e das histórias de vida dos coadjuvantes. Dan Levy mostra seu talento dramático com a profunda melancolia e serenidade ao lidar com revelações duras. Ruth Negga (de “Loving”) vive a esfuziante Sophie, sempre com problemas amorosos mas com garra para dar a volta por cima com humor. Himesh Patel (de “Yesterday”) é Thomas, o ex-namorado de Marc que nunca superou o término mas que segue fiel. E por fim o veterano David Bradley (da saga Harry Potter), como pai do Oliver, com falas breves mas impactantes.
O texto, também de autoria de Adam Levy, é denso e foca nesses três amigos tentando superar a dor da perda. “Do Outro Lado da Dor” faz refletir sobre as várias formas de enfrentar e de fugir do luto. Para Marc, é como se ele “estivesse nadando vestido e não conseguisse tirar as roupas”. Criar uma realidade que não nos faz lembrar a pessoa que se foi é bobagem, pois as lembranças ficam incubadas e uma hora tudo vem à tona com força total. Por isso é preciso encarar as memórias, as boas e as ruins, abraçá-las como um refúgio e não como uma ameaça, e assim tornar o sofrimento tolerável, afinal, a vida segue em frente.
