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“Carmen”: Releitura da famosa ópera, filme mistura conceito e poesia com energia e elegância | 2024

Uma das óperas mais famosas de todos os tempos, ‘Carmen’, de Georges Bizet, trata da história de uma jovem cigana, a Carmen do título, que seduz o cabo Don José. Após conquistá-lo, Carmen volta para os braços do toureiro Escamillo, sobre quem pesa uma profecia de morte. Inconformado, Don José confronta a cigana, terminando por assassiná-la. A ópera é de 1875 e até hoje novas montagens do espetáculo são criadas ao redor do mundo com enorme sucesso.

Nessa adaptação recém-chegada à HBO Max, a direção de Benjamin Millepied, que coreografou as cenas de balé em ‘Cisne Negro’ e atualmente casado com a atriz Natalie Portman, reimagina a trama à partir de um encontro fatídico no México e traça uma missão para Carmen que é refazer sua vida na cidade de Los Angeles. Millepied lança mão de toda sua bagagem profissional trazendo um musical repleto de conceito e performances viscerais, replicando a vibração de uma ópera porém num diapasão mais discreto, sem excessos. O longa foi divulgado como musical, mas pra mim esse novo ‘Carmen’ se parece mais como um número de dança cercado por câmeras. É claro que as performances, que se dividem entre o Flamenco e a Dança Contemporânea, são muito pontuais e não usadas de forma gratuita – um caminho que não só ressignifica a mensagem e o que a trama quer passar com aquela ação – como também remete ao espetáculo, a razão de ser dessa adaptação.

A Carmen de Benjamin Millepied é Melissa Barrera (‘Pânico V e VI’) , uma jovem mexicana que tenta atravessar a fronteira após a morte de sua mãe. Bem no meio de uma ação no deserto realizada por coyotes, Carmen conhece Aidan (Paul Mescal , de ‘Aftersun’), que lhe salva a vida ao matar um dos seus. O que se segue é uma corrida louca através dos Estados Unidos. Melissa, pra buscar um lugar ao sol longe do trauma e do rastro de sangue de sua família, e Aidan por precisar salvar a própria pele depois de falhar na missão de defender o país de estrangeiros ilegais.

A primeira curiosidade que me bateu foi a de entender como Paul Mescal, o novo queridinho do momento, iria se sair num musical. Porém, felizmente, até pela roupagem e as escolhas estéticas e criativas de Millepied, Mescal surpreende não só num número de dança contemporânea com Barrera como também pela química em todas as cenas com a parceira. Ainda no campo das atuações, é possível se deleitar com as aparições de Rossy de Palma (um dos medalhões nas obras de Pedro Almodóvar, muito conhecida por sua figura exótica e marcante), a dona de uma casa de shows que promove performances emblemáticas, repletas de expressões notáveis, tudo com muita cor, fisicalidade e conceito.

Em tempos onde adaptações e remakes surgem aos borbotões, ‘Carmen’ é um respiro criativo. Com muita identidade e usando recursos narrativos que ajudam a contar a história com música e dança, a produção com toda certeza agradará não só amantes do gênero como também o expectador convencional, nem sempre afeito a esse modo de fazer cinema.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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