⚠️ VEJA OUTRAS CRITICAS DO PAPO EM NOSSO ACERVO (SITE ANTIGO).

ACESSAR SITE ANTIGO
PitacO do PapO

“Vidro Fumê”: Drama baseado em fatos é protesto pela violência contra a mulher | 2024

Podemos existir e ser invisíveis?

Em um depoimento, o cineasta Pedro Varela disse que “Vidro Fumê”, que acaba de chegar num circuito reduzido ao cinemas brasileiros, é um filme processo. A trama, que foi gravada em 2018 e realmente finalizada em 2022, passou por uma grande metamorfose nesse período, isso para que o cineasta alcançasse uma mensagem mais abrangente, já que se trata de uma temática tão séria. Sobretudo no Brasil, quando os números de feminicídio e violência contra a mulher sobem a cada dia.

Na trama conheceremos a estudante americana Mary (Ellie Bamber), que depois de ser sequestrada com seu namorado, Gabriel (James Frecheville), durante uma noite no Rio de Janeiro, passa a madrugada à mercê de seus algozes (que parecem querer mais do que dinheiro)  em uma van que circula pela cidade. Enquanto isso, Miriam (Mari Oliveira), uma ativista social brasileira, é pressionada e assediada por Azevedo (Augusto Madeira) um político corrupto e sem escrúpulos. Essas duas histórias paralelas, de mulheres de realidades muito diferentes, em algum momento irão se cruzar pelo tipo de violência que viveram.

Para além de denunciar a violência contra a mulher, “Vidro Fumê” propõe uma visão macro de outro problema que segue sem solução: o pouco caso do poder público com a violência como um todo na cidade do Rio de Janeiro. Entre tantas coisas, as vãs ilegais e o notório abandono da segurança pública, endossado por políticos que também desconhecem justiça, e, no caso do filme, aproximando mais a lupa da ferida, Varela introduz na trama um “representante do povo”, que além de corrupto também tem um comportamento abusivo com a personagem de Mari Oliveira. Esse é só mais um lado dos incontáveis prismas tortos da Cidade Maravilhosa.

Vidro Fumê” funciona tanto como cinema denúncia como produto de entretenimento, e o debate que o longa propõe tem grande valor. O clima de suspense  é constante e gera interesse no público, no entanto é possível notar uma certa desorganização na montagem, talvez pela sede de mensagem do diretor português. É sabido que o longa foi refilmado e que personagens (como o de Augusto Madeira, por exemplo) foram inseridos e outros ganharam mais destaque para reforçar o discurso, dessa forma, na junção desse quebra cabeças, o desenvolvimento acabou sendo prejudicado.

Ainda assim, vale ressaltar o ótimo elenco dessa coprodução, que tem na jovem atriz americana Ellie Bamber e na promessa do nosso cinema, Mari Oliveira, duas forças que se desvencilham com maestria dos vícios de obras do gênero. Muitas vezes, o protagonismo salva sim projetos que não chegam as ser brilhantes, mas que evocam mensagens urgentes.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo