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“Selvagens”: Lição para crianças e adultos, longa dá voz às florestas que clamam por salvação | 2024

A preservação das florestas tropicais não é uma questão restrita ao âmbito local. Em acordos climáticos firmados anualmente, ações coletivas de conservação são previstas, visando o bem comum. O desmatamento e as práticas voltadas ao uso de solos degradados estão entre os principais fatores de impacto no equilíbrio climático em todo o globo, afetando também o modo de vida dos povos originários ao redor do mundo. Esse é, sem dúvida, um tema complexo que exige um debate abrangente. Nesse sentido, “Selvagens” carrega a responsabilidade de comunicar aos mais jovens a importância dessa temática, que certamente pautará nossa existência por muito tempo.

A trama é ambientada às margens de uma imponente floresta tropical e nela acompanhamos Kéria (Babette De Coster), uma jovem que acolhe um bebê orangotango resgatado das perigosas plantações de óleo de palma onde seu pai (Benoît Poelvoorde) trabalha. Ao mesmo tempo, seu jovem primo Selaï (Martin Verset) vem morar com eles, buscando refúgio dos conflitos entre sua família indígena e as empresas madeireiras. Unidos pelo destino, Kéria, Selaï e o pequeno primata embarcam em uma luta corajosa contra a destruição da floresta ancestral. Para Kéria, porém, essa batalha também se tornará uma jornada de autodescoberta, revelando verdades profundas sobre suas próprias origens.

O filme se passa em Bornéu, uma vasta ilha localizada no Sudeste Asiático, mas o estilo de vida retratado e até as paisagens são muito familiares para nós, brasileiros. As comunidades ribeirinhas do norte do Brasil se assemelham muito às representadas no filme. A problemática central — violência, ambição e destruição ambiental — também nos é bastante próxima, reforçando o caráter universal e a relevância temática da obra. A abordagem é didática e direta, em contraste com o trabalho anterior do diretor, “Minha Vida de Abobrinha” (2016), que explora nuances com mais sutileza. Em “Selvagens”, essa falta de sutileza é intencional: o conteúdo é impactante e a mensagem visa uma objetividade crua, sem espaço para justificativas ou meias verdades. A morte, por exemplo, é um tema recorrente, tratado com a seriedade que exige.

“Selvagens”, que estreou na seção “Young Audiences” do Festival de Cannes 2024, é uma lição tanto para adultos quanto para crianças, além de um grito de alerta. As vozes presentes são, em grande parte, das comunidades minorizadas, mas, em última instância, a preocupação com o meio ambiente é uma questão literalmente de vida ou morte para todos nós. Não podemos relegar essa realidade ao futuro, pois, ao olhar ao redor, fica claro que esse futuro que tanto nos assombra, já chegou.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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