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Retrospectiva 10 Anos de Papo!

2023 no cinema: Barbenheimer, greves, crise de heróis, chuva de cinebios e mais!

É verdade universalmente conhecida que no Brasil o ano só começa de verdade depois que passa o carnaval. Assim sendo, vamos comemorar a chegada de 2024 e a cara nova do site com uma retrospectiva sobre as muitas coisas que aconteceram no meio cinematográfico, pois agora podemos olhar para trás e fazer um balanço sobre tudo que teve de melhor e de pior em 2023. Teve debate, teve greve, teve prêmio e muito protesto. Teve de tudo um pouco, entre gratas surpresas e tristes decepções, e agora vamos recordar como passou o ano em que ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ foi laureado com o prêmio máximo do Oscar. Ah! E os filmes citados nesse artigo possuem crítica aqui no site, na sessão de arquivos (com a configuração antiga) e serão destacados em negrito, então se algum te interessar é só clicar sobre o nome e o navegador será redirecionado para a crítica escolhida.
Vamos começar com um assunto leve? Bora falar de Jonathan Majors então! O ano que seria o melhor da carreira do interprete de Kang, como um merecido enaltecimento a todo o seu talento, se tornou o ano de sua ruína pessoal e da destruição da carreira ascendente que ele vinha erguendo. O anunciado quinto filme dos Vingadores tem agora seu subtítulo suspenso indefinidamente, podendo ou não se chamar ‘Dinastia Kang’, após a condenação do astro que seria o grande vilão. Outro filme já concluído e também protagonizado por ele, chamado ‘Magazine Dreams’, acabou engavetado por conta da repercussão de seus crimes cometidos e julgados. Não dá pra dizer se o Kang seria ou não bem sucedido em seu propósito de destruir o universo Marvel, mas é certo que seu interprete, de um jeito ou de outro, honrou a escalação.
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Já que entramos no assunto Kang e Marvel, 2023 não foi um ano lá muito bom para os super-heróis, já que o gênero apresentou um nítido desgaste e agora os estúdios vão fazer de 2024 um período quase sabático para repensar suas fórmulas. Tivemos ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ abrindo o descarrilamento, trazendo ‘Shazam! 2: A Fúria dos Deuses’ e ‘Guardiões da Galáxia: Volume 3’ na sequência. No meio do ano tivemos ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ e ‘Flash’, e dois meses depois foi a vez da nossa Bruna Marquezine dar as caras em ‘Besouro Azul’. Fechando a conta teve ‘As Marvels’ e ‘Aquaman 2: O Reino Perdido’, que chegou aos cinemas nos 45 do segundo tempo do ano. Desse montante só se salvaram em bilheteria e repercussão de crítica o terceiro dos Guardiões e segundo do Aranhaverso, mas confesso meu agrado com a maioria deles. São filmes que não devem ser levados tão a sério e possuem uma tonelada de problemas, claro, então não deve-se esperar nesses filmes o refinamento de uma obra tão rica como uma daquelas que só um Martin Scorsese da vida consegue conceber.

E por falar no titio Scorsese (This is Cinema!), tivemos o grande (e bota grande nisso) ‘Assassinos da Lua das Flores’, que o veterano dirigiu com os nomes de Leonardo DiCaprio e Robert DeNiro no elenco, além da incrível vencedora do Globo de Ouro, Lily Gladstone. A métrica para Scorcese é diferente da usada para filmes de herói (e de todo o resto também, o cara é tão icônico que tem uma régua própria), e se cobra muito mais de um cineasta tão consagrado e talentoso quanto ele porque se sabe que o mestre sempre entrega obras de arte em seus filmes. Tendo isso em mente, a declaração de Steven Spielberg sobre o filme, alegando ser esta a obra-prima de Scorsese, ganha uma profundidade ainda maior. Por aqui não foi diferente, dentro do Papo ficou nítido que ‘Assassinos da Lua das Flores’ foi o preferido do ano de metade do grupo, e com muitos méritos. A duração de 3h30 tem seu peso, mas o tempo corre a favor do filme e no fim das contas é só um detalhe perante a imensidão da relevância dessa trama de injustiças que o diretor traz à luz.
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Contudo, por maior que Scorsese seja, o grande destaque do ano foi para os nomes de Greta Gerwig e Christopher Nolan, que com seus filmes tão diferentes e únicos conseguiram culminar no maior evento cinematográfico do ano: o Barbenheimer. Multidões foram aos cinemas no dia 20 de julho e nos dias sequentes para fazer uma maratona de cinco horas diante da telona, para assistir ao colorido ‘Barbie’, de 2h, e o tenso ‘Oppenheimer’, com suas três horas de duração. Foi uma onda de rosa e preto dominando as salas de todos os cantos do mundo, e ambos são muito bem citados para essa temporada de premiações, já tendo inclusive vencido diversas categorias entre os votantes de vários festivais e sindicatos. Graças a esses dois filmes, é plenamente cabível afirmar que 2023 foi um grande ano para a retomada das produções originais, isto é, aquelas fora de franquias já iniciadas e estabelecidas – uma vez que, além desses dois gigantes, tivemos também outros filmes “menores” que conquistaram um espaço significativo entre crítica e mercado
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Teve o excelente drama policial ‘Sede Assassina’, disponível agora no Prime Vídeo após uma curta jornada nos cinemas, e o excepcional ‘O Assassino’, de David Fincher, longa original da Netflix que foi uma das obras mais cinematograficamente completas de 2023 em suas categorias técnicas. Outros filmes originais foram ‘Som da Liberdade’, com Jim Caviezel combatendo o tráfico infantil de fins adultos, ‘Air’, com a história da criação de um produto icônico da Nike e com direção de Ben Affleck, ‘Desaparecida’, que é uma antologia isolada do mesmo universo de ‘Buscando…’, e o intenso ‘Saltburn’, da diretora e roteirista Emerald Fennell, vencedora do Oscar em 2021. Contudo, destaco três filmes intimistas e aterradores, que fizeram 2023 ser, cada um ao seu modo, um ano mais reflexivo: ‘Monster’, um drama japonês avassalador; ‘Close’, filme belga ao estilo come of age indicado ao Oscar de melhor filme internacional; e ‘Aftersun’, longa-metragem de estreia da diretora Charlotte Wells que quebrou o coração de muita gente.
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Um filme que merece muito destaque, que não é nem uma obra com conceito original e nem uma sequência de outro filme, é o japonês ‘Godzilla: Minus One’, que chegou aos cinemas no meio de dezembro e ressaltou a tradição e a identidade histórica de um ícone cultural que ganhou dimensões colossais de popularidade mundial. Surpreendente e abissalmente tocante, o filme de Takashi Yamazaki surpreendeu a todos resgatando o caráter ofensivo do kaiju japonês e rememorando sua alegoria ao trauma pós-guerra com muita humanidade e tensão. Um grande feito do cinema não-hollywoodiano, pois ganhou uma notoriedade gigantesca tendo o orçamento equivalente ao de duas paçoquinhas Moreninha do Rio e uma garrafa de catuaba selvagem. ‘Godzilla: Minus One’ é um filme muito bem executado em narrativa e efeitos visuais, com uma história brilhantemente contada que merece ainda mais destaque por não fazer parte de alguma saga cinematográfica com uma caravana de títulos em um universo compartilhado. E por falar nisso…
As franquias, por outro lado, deram uma bela patinada na qualidade. Além dos filmes de heróis, tivemos ‘Velozes e Furiosos 10’, ‘Megatubarão 2’ e ‘A Freira 2’ liderando as frustrações mais populares. Salvou-se com louvores, entre outros menos brilhantes, o inventivo ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas: Parte 1’, que perdeu espaço para o fenômeno Barbenheimer e deixou de faturar seu bilhão mesmo sendo um filme excelente. Teve também ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’, ‘O Protetor 3: O Capítulo Final’, ‘John Wick 4: Baba Yaga’, ‘Transformers: O Despertar das Feras’, ‘Creed 3’, ‘Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’, e os terrores ‘Jogos Mortais X’, e ‘Sobrenatural: A Porta Vermelha’ e ‘Pânico VI’, cuja sequência rendeu uma polêmica que tomou o fim de ano cinéfilo: a demissão de Melissa Barrera, então protagoniza do reboot de ‘Pânico’ ao lado de Jenna Ortega (que se demitiu no dia seguinte ao anúncio da dispensa da colega de elenco), após declarações em favor do povo palestino. O sétimo filme da franquia perdeu também seu diretor, Christopher Landon, que afirmou que dirigir um filme do Ghostface “era um sonho que tinha se tornado um pesadelo”. Fica a torcida para que o legado de Wes Craven, um gênio no terror, não se perca com esses problemas de bastidores.
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Aproveitando o gancho do terror, tivemos também o lamentável ‘O Exorcista: O Devoto’ e o surpreendente ‘Fale Comigo’, além do angustiante ‘A Morte do Demônio: A Ascensão’ e do quase cômico ‘M3gan’. Melhor nem comentar sobre ‘Five Nights at Freddy’s’, que aterrorizou a paciência dos adultos e foi a festa de uma parcela barulhenta de adolescentes fanáticos pelo jogo e desprovidos de qualquer importância quanto à coesão narrativa. No slasher não teve outro nome se não ‘Ursinho Pooh: Sangue e Mel’. Viu-se também Russell Crowe pagando os boletos em ‘O Exorcista do Papa’, e um icônico Nicholas Cage vampiresco em ‘Renfield: Dando o Sangue pelo Chefe’, fora o insólito ‘Urso do Pó Branco’ (com o mesmo ator animal super versátil de grandes sucessos como ‘Mogli: O Menino Lobo’ e ‘O Regresso’, ambos de 2016). E fechando a categoria teve o tedioso (ou incompreensivelmente brilhante, talvez) ‘Beau tem Medo’, do renomado Ari Aster.
Faltou alguma? Comenta aí caso a sua memória esteja mais fresca! E falando em memória, esse foi o ano mais acalorado sobre o debate que engloba o uso das inteligências artificiais (as famosas IAs) no ramo cinematográfico em suas mais diversas funcionalidades. Desde o viés criativo até o debate ético sobre o uso da imagem de artistas já falecidos, tudo foi conversado nas tantas camadas da indústria e uma greve foi estabelecida para fazer justiça monetária aos artistas que dependem dessa arte para viver. Premières foram canceladas, circuitos de entrevistas e divulgações deixaram de acontecer e vários artistas fizeram silêncio na voz e na escrita. A greve dos atores, assim como a dos roteiristas, provocou atrasos em centenas de produções e o calendário de lançamentos dos grandes estúdios teve que ser refeito diante de tantos adiamentos – uma enorme bagunça em prol de um devido e merecido reconhecimento pelo trabalho e pela arte, em manifestação à não substituição do ímpeto inventivo humano pelas inteligências artificiais.
E em pleno 2023, o ano seguinte ao ano da tecnologia de Toguro, muito se debateu sobre a famosa IA também dentro dos filmes. O já citado ‘Missão Impossível 7’ e o subestimado (e excelente) ‘Resistência’ foram os maiores destaques no cinema, enquanto ‘Agente Stone’ e ‘Jung_E’ (este com crítica em breve) ganharam espaço no streaming. Já que o assunto é revolta das máquinas, fica a indagação: terá sido o atropelamento do ator Jeremy Renner por um trator de jeve em janeiro o início dessa revolução? 2023 se abriu com a notícia do quase óbito do intérprete do Gavião Arqueiro do MCU após ter vários de seus ossos esmagados por um “acidente” que quase levou a uma fatalidade. Sendo o início da rebelião das máquinas ou não, fato é que ele já se recuperou e voltou à ativa. Um exemplo de superação e determinação humana!
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Outro exemplo de determinação foi a nomeação de Andrea Riseborough ao Oscar de melhor atriz após uma campanha orgânica promovida por colegas de profissão e admiradores feita nas redes sociais. Isso rendeu uma picuinha danada e levou a Academia a repensar suas regras de candidatura para as próximas edições, além de uma maior rigidez às declarações dos candidatos indicados após Michelle Yeoh quase ser desclassificada da competição pela estatueta de Melhor Atriz por conta do compartilhamento de uma matéria em seu perfil salientando a importância da própria vitória sobre a concorrente mais forte da temporada, Cate Blanchett. Quase teve treta, vexame e humilhação, mas preferiram deixar passar dessa vez com a promessa de fazer mais vista grossa daqui pra frente. Esse tipo de polêmica não pode acontecer como tem ocorrido, afinal a Academia tem uma reputação a zelar. O Oscar tem uma história bem longa, quase um século, e daqui poucos anos alcançará seu terceiro dígito. E sabe quem alcançou seu segundo dígito em 2023? O Papo de Cinemateca!
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Dez anos. Passou rápido, não?! O Papo de Cinemateca tem comentado a arte do cinema com a mesma paixão e intensidade que sempre moveu a equipe nessa primeira década de existência. Tivemos diversas matérias especiais, várias coberturas em pré-estreias, sorteios de brindes e, é claro, as críticas dos mais variados filmes sob nossa pluralidade de pontos de vista – os famosos Pitacos do Papo. Nosso editor chefe, Rogério Machado, começou sozinho a empreitada de tecer comentários sobre cinema e recrutou uma galera bem diversa para agregar novas visões e fomentar debates sobre as tantas modalidades de filmes são lançados cotidianamente. O projeto nasceu como um hobby no Instagram, modelado pelas mãos (e pela persistência) do Rogério, mas a “brincadeira” apaixonada ficou séria e a relevância do Papo cresceu de tal modo que hoje o site cobre fielmente alguns dos festivais mais importantes do cenário cultural e cinematográfico do país.

Da esquerda para a direita: Rogério, Karina, Vinícius, Rafa, Alan, Marcello, Eduardo, Maurício, Bruno, Sérgio, Rafael, Rapha, William, Thayná
Nosso time atualmente é composto por mais cinco nomes além do Rogério, e são eles os de Karina Massud, Rafael Ferraz, Alan Ferreira, Marcello Azolino e eu que vos falo, Vinícius Martins. Mas outros nomes também compuseram nosso elenco nesse tempo todo, e é com muita gratidão e carinho que citamos agora os nomes de Thayná Prado, Sérgio Ghesti, William Weck, Rafael Yonamine, Bruno Santos, Raphael Camacho, Maurício Stertz e Eduardo Machado, indivíduos que em muito contribuíram para o crescimento do Papo com seus talentos e opiniões tão culturalmente ricas. Fechamos 2023 alcançando a marca de mais de 3.200 textos publicados e com um correspondente internacional que traz novidades fresquinhas das terras estadunidenses. Com uma criatividade gigante e muito debate sobre os tantos conceitos sobre o cinema e suas múltiplas faces, o Papo continuará com o mesmo ímpeto inventivo nessa nova década e seguirá trazendo o que há de melhor (e pior) nos filmes que são lançados toda semana nas salas comerciais, nos streamings e nos festivais.
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Fica o convite para continuar nos acompanhando, estando sempre à vontade para concordar e/ou discordar de nós – até porque nós mesmos concordamos e discordamos entre a gente. Cinema também é isso, é o diálogo apaixonado que se estabelece quando pessoas tão distintas se encontram no entorno da devoção pela mesma arte. Como diz o editor, muito cinema pra todo mundo!  Vida longa ao Papo de Cinemateca!

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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