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“Vovó Ninja”: Longa traz Glória Pires como uma avó encantadora e empoderada | 2024

Avó é uma “mãe com açúcar”, é aquela pessoa que mima e que muitas vezes faz parte das melhores memórias afetivas dos netos. Privilegiados são os que tiveram ou ainda tem a chance de conviver com a avó, seja ela a figura de uma senhorinha que faz quitutes e hidroginástica, seja ela como Arlete, a protagonista de “Vovó Ninja”, uma fazendeira praticante de tai chi chuan e leitora de clássicos. Arlete é uma avó meio diferente, ela parece misteriosa por viver reclusa em sua fazenda, e por isso todas as crianças tem medo dela, tanto que a apelidaram de “Boladona”. Durante as férias escolares ela recebe os três netos com quem não tem muita intimidade; no início eles não curtem, pois o lugar não tem internet, eles têm que ler livros e conversar entre si, e ainda tem que seguir algumas regrinhas impostas pela avó. Mas é depois de uma descoberta que tudo muda e eles passam a enxergá-la com outros olhos.

“Vovó Ninja” peca por desviar o fio condutor pras habilidades ninjas da protagonista e não se fixar na relação dela com as crianças ou no seu acerto de contas com a filha, de quem se afastou no passado. O roteiro causa estranheza e perde força quando insiste nesse aspecto, pois seria pouco provável que determinados acontecimentos ligados ao kung fu acontecessem naquela realidade, sendo assim, eles ficam deslocados na história. Arlete poderia ser “ninja” por ser empoderada, dona de si e feliz na sua vida simples, e não exatamente por ter virado uma expert nas artes marciais.

A trama cativa exatamente quando foca na relação entre a avó e seus netos, que vai se aprofundando e eles percebendo como ela é legal, e que suas regras só tornam a vida mais fácil. Os laços de afeto vão se desenvolvendo aos poucos, a cada refeição em família, nas histórias antigas, a cada explicação sobre um livro da vasta coleção, nos passeios pela mata e pelo lago, na linda propriedade que dá uma sensação de paz incrível. Ao mesmo tempo que os netos vão se afeiçoando à avó, ela se torna mais suave, deixando a rigidez de lado sem abandonar as normas do quotidiano.

O elenco é excelente e eleva a história simples a um outro patamar. Glória Pires é irresistível e exala talento como essa avó controladora mas doce – à primeira vista ela parece ser “fora da casinha”, mas no final é apenas uma matriarca que cuida da prole e almeja a harmonia do lar. Numa parceria inédita, Glória atua com  Cléo Pires, também sua filha na trama. Os atores mirins se destacam, os netinhos e os seus vizinhos têm atuações muito naturais que surpreendem.

Dirigido com a competência de costume por Bruno Barreto ( diretor do indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional “O Que é Isso, Companheiro?”), “Vovó Ninja” é apresentado como uma comédia, mas na verdade é um drama familiar leve que agradará todos os tipos de público. Um filme muito agradável de assistir e que toca o coração de quem, assim como eu, foi criado por avó e a tem como alguém essencial pra sua formação.

Karina Massud

Formada em Direito, cinéfila desde os 5 anos de idade, quando seu pai a levou para assistir “Superman-o Filme”. Cachorreira, chocólatra, fã ardorosa de séries, músicas, literatura e tudo que emocione.

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