“O Grande Golpe do Leste”: Sandra Hüller estrela comédia simpática sobre golpe financeiro pós-queda do Muro de Berlim | 2025

Após uma temporada de sucesso em que estrelou filmes internacionalmente premiados, como “Zona de Interesse” (2023) e “Anatomia de uma Queda” (2023), a atriz alemã Sandra Hüller protagoniza uma comédia leve sobre um grupo de moradores da Alemanha Oriental que vivencia a queda do socialismo nos dias que antecedem a reunificação do país em 1990.
Hüller interpreta Maren, uma mulher desempregada, casada com Robert (Max Riemelt), mas que mantém uma relação ambígua de amizade com seu ex-namorado Volker (Ronald Zehrfeld). Os três conseguem invadir um bunker em Halberstadt e descobrem pilhas de dinheiro da Alemanha Socialista abandonadas e prestes a perder seu valor com a reunificação do país. Diante dessa descoberta, o trio decide levar para sua comunidade local todo o dinheiro possível de carregar e iniciar um “plano infalível” para gastá-lo nos três dias restantes antes da adoção do marco alemão em outubro de 90.
Os três se mobilizam junto aos moradores do bairro para comprar a maior quantidade possível de eletrodomésticos (micro-ondas, cafeteiras) de vendedores porta a porta e, em seguida, revendê-los com desconto, com o intuito de se capitalizarem em marco alemão. O objetivo final é adquirir, com o dinheiro, uma fábrica local de parafusos, para que os moradores da região possam trabalhar e reerguer o espírito nacionalista da comunidade. Essa estratégia financeira, com todos os seus amadorismos, é contada com bom humor e leveza sob a condução da diretora Natja Brunckhorst, mais conhecida por ter interpretado, em 1981, a personagem Christiane F., do controverso clássico alemão “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída”.
‘O Grande Golpe do Leste” é baseado em uma história verídica conhecida como o “Tesouro de Halberstadt”, que chegou a atrair alguns caçadores de tesouros para aqueles bunkers alemães em 1990. A ideia do novo governo era deixar aquelas notas de dinheiro apodrecerem no subsolo, mas o “plot twist” de alguns cidadãos perceberem a oportunidade de lucrar com aquele dinheiro abandonado, com poucos dias antes da entrada em vigor da nova moeda, é uma história e tanto para virar comédia nos cinemas. É justamente isso que Brunckhorst faz ao escalar um elenco talentoso liderado por Sandra Hüller e ao construir um roteiro cheio de diálogos desconcertantes, no melhor estilo do humor alemão: seco e irônico.
O filme também busca não vilanizar nenhum dos personagens. Tudo é tratado com leveza e uma superficialidade que pode incomodar quem procura mais detalhes históricos sobre esse curioso evento. O foco da narrativa é, sem dúvida, as relações humanas daquela comunidade, ora com tons cômicos, ora dramáticos, tendo como pano de fundo o esquema financeiro.
Em linhas gerais, o filme não busca ser um retrato fiel desse incidente peculiar na derrocada da Alemanha Oriental, mas sim criar uma comédia situacional, cheia de personagens carismáticos e boas intenções. O final feliz deixa uma sensação de filme “feel good”/alto-astral – algo raro, considerando o contexto da maioria dos filmes alemães, que costumam ser mais sisudos. É uma ótima oportunidade de explorar o gênero de comédia feito aos moldes alemães.