“Guerra Civil”: Trama eletrizante sobre guerra civil nos EUA aborda perspectiva de jornalistas em zonas de conflito | 2024
Em meio a tantos filmes com pinta de independente e com temáticas dificilmente suportadas por grandes estúdios, a Produtora de cinema A24 decide fazer uma incursão pelo cinema de ação espetáculo com “Guerra Civil”, que estreia esta semana nos cinemas brasileiros. A obra dirigida e roteirizada pelo celebrado Alex Garland, de filmes como “Ex Machina” (2014) e “Aniquilação” (2018), encontra um terreno fértil contemporâneo para contar a trágica história de um país dividido por uma guerra civil sangrenta em um futuro distópico.
Para guiar o público no calvário norte americano da polarização entre estados, acompanhamos a óptica de fotojornalistas de zona de guerra interpretados com pulso por Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson. Todos eles embarcam em uma road trip de Nova Iorque até Washington D.C para tentar conseguir uma entrevista exclusiva com o Presidente dos Estados Unidos, interpretado pelo ator Nick Offerman. A ideia é que eles cheguem antes que os inimigos do Chefe Maior, os militares dos Estados da California e Texas, avancem sobre a capital do país e tentem depô-lo. Dessa forma, sob uma estrutura convencional de “filme na estrada”, Garland consegue manter a atenção do público e garantir bastante tensão ao longo do caminho à medida que o quarteto encontra figuras que podem representar um risco real à suas vidas. A cena em que Jesse Plemons, que interpreta um miliciano absolutamente psicopata, cruza o caminho dos jornalistas é de deixar a sala de cinema em silêncio total com os músculos enrijecidos de tanta inquietação.
Grande parte dos elementos que funcionam em “Guerra Civil” se deve aos diálogos bem construídos do roteiro e ao carisma dos 4 integrantes desta comitiva kamikaze rumo à capital dos EUA. Kirsten Dunst interpreta Lee e absolutamente se desapega de qualquer vaidade no papel, sua personagem é uma mulher com uma missão e encara o fotojornalismo com um pragmatismo desconcertante. Seu olhar apurado e seu talento servem como vetor para o registro de fotos que resumem de maneira avassaladora o que são os bastidores da guerra. Não há pudor, não há receio, apenas a sede por ser testemunha ocular daqueles eventos trágicos e poder fazer uma cobertura que capture visualmente o horror do conflito. A câmera por várias vezes fita o rosto de Lee e a partir de sua expressão é possível capturar todo o peso dramático no olhar de Dunst. É uma atuação admirável no currículo da atriz.
Enquanto Dunst é drama, Wagner Moura entra pra trazer leveza para a história como Joel. Suas tiradas servem como alívio cômico e sua espontaneidade agrega muito à dinâmica das personagens. A outra metade do grupo é composta pela aprendiz de fotojornalismo Jessie, interpretada pela Cailee Spaeny (a Priscilla Presley do recente “Priscilla”), e pelo sábio Sammy, feito pelo Stephen McKinley Henderson.
As cenas de ação se intensificam quando o grupo chega em Washington DC e se depara com bombardeios e explosões nos principais cartões postais da cidade. É arrepiante imaginar um cenário de guerra nas ruas em frente a Casa Branca, ou disparos de mísseis direcionados ao Monumento de Abraham Lincoln…O realismo e o cuidado de tornar a experiência o mais crível possível é garantia para mergulhar o público ainda mais em um contexto não tão difícil de acontecer, frente às polarizações violentas que as nações democráticas enfrentam atualmente. Destaque também para a qualidade e primor do som do filme, potencializado por salas como as de IMAX.
A trilha sonora coroa a experiência com gêneros que vão do Hip Hop, Country até culminar com a balada Eletro-punk da banda Suicide, “Dream Baby Dream”, no desfecho do Longa. Que pancada! Garland encerra o filme com uma cena de dar nó na garganta e aperto no peito, misto de sentimentos que só um diretor do quilate dele consegue oferecer de bandeja ao seu público.