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“Filhos”: Drama dinamarquês toca em temas como vingança e reparação, a partir do ponto de vista de uma agente penitenciária em luto | 2025

Lançado oficialmente no Festival de Berlim de 2024 e selecionado para a 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o mais novo trabalho do diretor e roteirista sueco Gustav Möller (“Culpa”, de 2018) propõe uma interessante reflexão sobre vingança e reparação no ambiente carcerário. “Filhos” (2024) desenvolve praticamente todo seu enredo em uma prisão de segurança máxima sob o ponto de vista de uma agente penitenciária chamada Eva (Sidse Babett Knudsen), uma senhora diligente e dedicada em seu ofício. Quando toma conhecimento de que uma pessoa de seu passado está sendo transferida para o bloco penitenciário vizinho ao seu, Eva decide buscar um  certo tipo de reparação para encerrar um capítulo doloroso de sua vida .

“Filhos” é um trabalho meticuloso da atriz dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, que, com sua fisionomia marcante e sua composição delicada de Eva, consegue traduzir sentimentos conflitantes de ódio e compaixão sem sequer abrir a boca. Eva transmite suas emoções através de seu olhar perdido em cenas longas, observando o agressivo prisioneiro Mikkel. Este último é interpretado por Sebastian Bull, cuja atuação exala fúria e brutalidade. O roteiro concentra-se no duelo psicológico entre Eva e Mikkel — pessoas com backgrounds diferentes que se conectam por um evento carregado de traumas do passado.

Sem conseguir replicar a genialidade e o frescor de seu trabalho anterior, “Culpa” , Gustav Möller constrói uma trama que, sem dúvida, desperta a curiosidade do público e entrega, a conta-gotas, os detalhes do mistério que conecta Eva a Mikkel. No entanto, o diretor perde o pulso no terço final ao apresentar um desfecho bem aquém do que o enredo poderia explorar. Ao colocar em cena a mãe de Mikkel como uma personagem que, de certa forma, traz um respiro na claustrofóbica relação entre protagonista e antagonista, sua função acaba sendo subexplorada. Embora a relação entre mãe e filho carregue um forte impacto sobre Eva, esses elementos não são devidamente desenvolvidos por Möller a contento.

Longe de ser um filme descartável, “Filhos” apenas reforça o talento de Gustav Möller em criar premissas interessantes e abordar temas relevantes, como o abuso de poder, a subversão da moralidade em prol da sede de vingança e as tensões psicológicas entre dois individuos com feridas indeleveis na alma.

Se, em “Culpa”, ele contou com a atuação memorável do ator Jakob Cedergren, aqui ele se beneficia do trabalho de sua atriz principal, Sidse Babett Knudsen, que entrega um verdadeiro tour de force nesta obra. Um claro sinal de que, com o elenco certo e um roteiro instigante, é possível construir narrativas atrativas e originais como é o caso de “Filhos”, que chega exclusivamente aos cinemas essa semana.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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