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Festival de Cinema de Paraty: “Atena”, de Caco Souza | 2024

No Brasil ainda seguimos tateando nos campos do cinema de gênero. Poucos se destacam nessa seara, como Marco Dutra, Juliana Rojas, ou ainda Raphael Montes, que sob a chancela da direção de José Eduardo Belmonte na direção nos trouxe “Uma Família Feliz”, outro grande destaque desse ano com roteiro de Raphael baseado em seu livro de sucesso. Caco Souza, que fez sua estreia na direção com“400 contra 1 – Uma História do Crime Organizado” em 2010, traz para o Festival de Cinema de Paraty sua aposta dentro do nicho, mais precisamente configurado como um thriller policial.

Na trama seremos apresentados a Atena (Mel Lisboa), uma jovem misteriosa, proprietária de uma loja de roupas em uma área nobre de Gramado, no Rio Grande do Sul. Atena tem um passado de abuso familiar e expurga toda sua dor da infância em homens que se aproximam dela e de outras mulheres intentado ir além do limite de uma convivência saudável.  Ela não tolera casos de violência e meio que se torna uma espécie de  vingadora implacável contra episódios de feminicídio.  Em meio a um caso misterioso que supostamente é tratado como suicídio, Atena conhece Carlos (Thiago Fragoso), um jornalista sensacionalista que cruza os caminhos de Atena, trazendo de volta um passado que vai balançar sua vida e aumentar sua sede de vingança.

“Atena” tem como grande destaque a força de sua protagonista. Mel Lisboa veste como ninguém a pele dessa vingadora, que esconde uma vida pregressa de vergonha e transforma esse passado em combustível para “queimar” todos se aproximam para infringir dor. Contudo, já que estamos falando de um thriller policial, é impossível não observar como Caco Souza costura sua colcha de retalhos, sobretudo num projeto que tem toda uma ambientação misteriosa em torno da personagem título.  Fica nítido que alguns personagens, bem desinteressantes por sinal,  são inseridos na trama só pra cumprir a cota de sangue e aumentar a carga de violência. Até mesmo o jornalista vivido por Fragoso está meio deslocado, tudo parece muito fácil para ele,  sobretudo o que leva a seu encontro com o drama da personagem título. Mel Lisboa causa empatia, mas todo o resto não conversa com a força de sua personagem.

É evidente que temas como feminicídio, abuso e pedofilia são imprescindíveis de se discutir, e o cinema é um vetor importante para que o debate encontre cada vez mais uma voz potente de protesto.  O impedimento em “Atena” diz respeito ao desenvolvimento do suspense, que se torna previsível já no primeiro terço da produção. São notáveis o clima, as locações, a trilha e a ambientação do suspense, mas infelizmente a trama dessa colcha confeccionada por Caco por cerca de 80 min de projeção deixa muitas pontas soltas. Fica a sensação que um tema de tamanha seriedade poderia ter sido tratado com mais cuidado, ou ao menos com mais mistério, já que a proposta aqui é entreter.

 

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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