“Emmanuelle”: clássico do cinema erótico “soft-core” ganha reboot com Naomi Watts e Noémie Merlant | 2025

Em 1974, “Emmanuelle” causou rebuliço ao ser lançado como uma das principais obras cinematográficas do cinema erótico softcore. Estrelado pela atriz holandesa Sylvia Kristel no papel principal, o filme continha cenas de masturbação e sugestão de atos sexuais sem quaisquer exposições de sexo explícito, que é o que diferencia esse gênero do erótico hardcore. A obra se tornou uma franquia profícua que gerou diversas sequências, que iam de aventuras no Brasil, em “Emmanuelle 4” (1984), até tolices como “Emmanuelle no Espaço” (1990).
Para os brasileiros, a marca Emmanuelle ficou bastante difundida nos anos 1990, quando os filmes estrelados pela venezuelana Marcela Walerstein e pela norte-americana Krista Allen eram hits das noites de sábado no Cine Privé da Rede Bandeirantes. Para a alegria de muitos marmanjos que não tinham acesso à TV a cabo, os telefilmes de Emmanuelle eram uma das poucas oportunidades de assistir a conteúdo picante na TV aberta.
Eis que surge agora uma espécie de reboot, dirigido e co-roteirizado pela francesa Audrey Diwan, que coloca a sensual atriz Noémie Merlant (“Retrato de uma Jovem em Chamas” – 2019) no papel de Emmanuelle, uma espécie de executiva de uma rede de hotelaria que viaja a Hong Kong com o intuito de avaliar um resort cinco estrelas. Ao mesmo tempo que precisa testar os serviços e instalações do hotel, Emmanuelle começa a se deparar com homens e mulheres que cruzam seu caminho em busca de aventuras sexuais no estabelecimento.
A trama frouxa dá espaço para cenas picantes de masturbações entre Emmanuelle e Zelda (Chacha Huang) e uma ou outra cena com homens no banheiro do avião ou em um torneio de mahjong. O fiapo de roteiro tenta criar algum envolvimento de tensão erótica entre Emmanuelle e um dos hóspedes misteriosos do hotel, Kei Shinohara (Will Sharpe), mas a história nunca decola, criando uma obsessão forçada da protagonista que tenta desvendar o que aquele homem de poucas palavras e hábitos misteriosos faz em Hong Kong.
Will Sharpe, que ganhou destaque na segunda temporada do mega hit da HBO White Lotus, aqui está claramente mal escalado num papel que deveria inspirar sensualidade e lascívia na protagonista como seu principal par “romântico”. Sua atuação engessada e carrancuda acaba matando qualquer química entre ele e a atriz Noémie Merlant. É justamente Merlant quem precisa carregar a proposta do filme nas costas, seja se entregando em cenas mais ousadas de masturbação, nu frontal ou trocando diálogos constrangedores com seus parceiros e parceiras de cena. O filme ainda conta com a participação da atriz Naomi Watts, que interpreta a gerente do hotel Margot Parson, numa subtrama mal elaborada que não dá espaço para ela desenvolver sua personagem.
Tecnicamente, a diretora Audrey Diwan consegue garantir um bom acabamento para sua obra, explorando planos e enquadramentos que ressaltam as interações das personagens em seus ambientes. Porém, o filme é dotado de uma certa esterilidade que o deixa sem vida, pulso ou qualquer sex appeal. Acaba por desperdiçar um elenco com potencial, constantemente sabotado pelo roteiro sofrível que traz diálogos com conversas nonsense ou banalidades que não acrescentam nada à história. Além disso, “Emmanuelle” tem mais tempo dedicado à protagonista andando como uma barata tonta pelas instalações do hotel e conversando com gente desinteressante do que cenas realmente picantes que explorem a liberdade sexual e o erotismo contido na personagem.
Uma chance desperdiçada de ressignificar um dos símbolos mais marcantes do conteúdo erótico softcore e reduzi-lo a uma obra sem alma e sem tesão.