“De volta à ação”: Filme-família de espiões cativa e peca pelo mesmo ponto: a simplificação | 2025
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O diretor Seth Gordon, das hilariantes comédias de constrangimento “Surpresas do Amor” (2009) e “Quero Matar meu Chefe” (2011), entende muito bem a dinâmica do encontro entre o improvável e o costume, acenando para uma familiaridade peculiar que, de um jeito quasímodo, gera uma identificação fácil entre o público e o festival de absurdismos que explana em tela. Seu novo filme, “De Volta à Ação”, traz Jamie Foxx fazendo par romântico com Cameron Diaz em uma trama bem água com açúcar, que lembra um final de tarde de domingo na casa daquela tia que gosta de filmes previsíveis que contém mensagens de devoção à família. Pode parecer meio arquétipo, eu sei, mas não se deixe enganar; apesar do alto teor genérico e da tabela de melodrama que é gabaritada, o filme tem seus méritos e potencial para cativar um público enorme
O roteiro é dos mais previsíveis, recheado de reviravoltas manjadas e coreografias de ação que miram John Wick e acertam Steven Seagal. As facilidades e conveniências por vezes flertam com o ridículo, mas então, com um charme totalmente inusitado, o apanhado final consegue fazer a curva e rememorar aqueles filmes descompromissados que marcaram a infância de quem cresceu entre meados dos anos 1990 e meados dos anos 2000, e o saldo se torna levemente positivo a partir de então. É uma trama de espionagem, um drama familiar, uma comédia corporal e um compilado de conveniências típico de filmes com roteiros preguiçosos, feitos direto para home vídeo, como os títulos que alugávamos na sexta-feira para entregar na segunda. Isso faz com que, mesmo sendo novo, caia sobre ele um quê de comida requentada – mas com ingredientes de infância para os adultos que, como eu, se veem confusos nesse meio de caminho que é a geração millennial.
Muito do que é apresentado aqui foi visto, de forma mais elegante, no recente “Sonic 3”. Conspirações, serviços secretos, perseguição por mercenários e referências à cultura pop são vistos em ambos os projetos, mas o da vez se absteve de um componente muito importante: ser assumidamente infantil. O filme parece querer agradar “a família toda”, e mostra querer ser levado a sério pelo público adulto enquanto, em contrapartida, faz uso de todos os clichês e ferramentas infantis que se dispõem diante dele. Falta um norte, apesar da boa intenção. Todavia, há chances de este ser para as crianças da atualidade o que aqueles filmes – filmes hoje reconhecidos como B – foram para nós. Vamos dar uma colher de chá, e vamos dar tempo ao tempo.