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“A Sociedade da Neve”: Longa evita sensacionalismo e concentra-se no pacto de sobrevivência | 2024

O desastre aéreo do voo 571 da Força Aérea do Uruguai é amplamente documentado, tendo gerado numerosas reportagens, documentários, livros e até um filme estadunidense de 1993 baseado em um livro do dramaturgo e romancista inglês Piers Paul Read. “A Sociedade da Neve”, também é baseado em um best-seller de mesmo nome, porém com um grande diferencial.

O Autor, Pablo Vierci além de ter atuado como jornalista na época dos acontecimentos, tinha vínculos pessoais com muitos dos sobreviventes. O resultado é uma obra que se concentra, como o próprio título prenuncia, na formação de uma sociedade onde a união se torna o único meio viável de sobrevivência. Ao iluminar o espírito de equipe, o livro afasta o sensacionalismo, trazendo uma perspectiva mais humanizada. Seguindo esse mesmo princípio, J. A Bayona, que assina a direção, nos entrega uma experiência que preserva todos os aspectos aflitivos dos eventos ocorridos, mas com um olhar afetuoso e uma narrativa que vai da tragédia ao milagre.

Em casos como esse, é comum questionar se há mais a ser dito; no entanto, a arte de contar histórias encontra seu grande atrativo na forma, não exclusivamente no conteúdo. Importantes eventos podem ser monótonos, enquanto um relato banal e cotidiano pode se transformar em uma obra-prima. Com isso em mente, “A Sociedade da Neve” não traz novidades sobre o que aconteceu, mas, de maneira mais marcante do que muitas outras obras, incorpora em sua estrutura dramas pessoais extremamente íntimos.

Embora inicialmente individuais, esses dramas coletivizam-se ao longo da trama, destacando-se especialmente nas escolhas de enquadramento. Embora haja planos que evidenciem as brutais consequências do acidente e a deterioração física de cada membro, Bayona opta por longas sequências de close-up e primeiro plano, transportando-nos não apenas para a tragédia física, mas para o desespero emocional de cada envolvido.

Outro aspecto que frequentemente monopoliza a atenção é a difícil decisão que os sobreviventes tiveram que tomar para preservar suas vidas, uma vez que todos os suprimentos se esgotaram nos poucos dias após a queda. Entretanto o que poderia se tornar um espetáculo de horrores, sabiamente dá lugar para discussões éticas e as consequências físicas, morais e até espirituais que um ato tão extremo acarreta, sem um pingo de julgamento, muito menos para a espetacularização.

O ritmo do filme é apropriado, com repetições justificáveis dada a monotonia a que estavam sujeitos. Os planos de estabelecimento oferecem a exata dimensão do isolamento e da improvável chance de resgate. Mesmo conhecendo o desfecho da história, a sensação de angústia é uma constante, intensificada pela trilha sonora melodramática, que apesar de eficiente, as vezes assume um tom excessivamente manipulativo.

Escolhido pela Espanha para representar o país no Oscar de Filme Internacional, “A Sociedade da Neve” volta às raízes hispânicas e àqueles mais intimamente ligados ao trágico milagre que deixou uma marca indelével na vida dos 16 sobreviventes, assim como em todos que testemunharam cada momento dessa história de resistência e perseverança.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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