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“A Primeira Profecia”: Prelúdio Renova e Expande o Legado do Clássico de 1976 | 2024

Revitalizar franquias de sucesso tem se provado uma estratégia eficaz, ao menos do ponto de vista comercial, especialmente no gênero de terror, onde, nos últimos 20 anos, remakes, reboots e filmes de origem se tornaram práticas comuns. Essa abordagem não só capitaliza sobre a nostalgia do público como também elimina a necessidade de investimentos pesados em marketing, uma vez que marcas estabelecidas já possuem reconhecimento próprio. Exemplos recentes incluem o desastroso “O Exorcista – O Devoto” e a tentativa constrangedora da Netflix de sequenciar o clássico “O Massacre da Serra Elétrica”.

O grande problema nessas tentativas reside no fato de terem como alvo o retorno financeiro, negligenciando a parte criativa. No entanto, “A Primeira Profecia” destaca-se como uma exceção. O filme justifica sua existência ao reavivar discussões pertinentes da década de 70, período de lançamento do original, que ainda encontram ressonância atualmente. Ainda assim, mesmo com essa base sólida e uma proposta engajadora, “A Primeira Profecia” encontra dificuldades na elaboração do suspense, resultando em uma previsibilidade que atenua o impacto.

Na trama acompanhamos Margaret (Nell Tiger Free), uma jovem americana enviada a Roma para viver a serviço da igreja. Em seu novo lar, um convento, ela se aproxima de Carlita (Nicole Sorace), uma residente enigmática e solitária. A curiosidade de Margaret sobre o misterioso passado da menina leva-a a confrontar as irmãs da igreja, que prontamente aconselham-na a manter distância. Com o auxílio de um padre desacreditado, ela se embrenha nesse mistério, desvendando uma conspiração sinistra, há anos velada pela igreja local, que lutava para ocultar uma verdade aterrorizante: a iminente ressurreição do mal absoluto, a reencarnação do anticristo.

Nos primeiros trinta minutos, “A Primeira Profecia” demonstra eficiência em estabelecer um contexto acessível tanto para o público familiarizado com a obra original quanto para os iniciantes, garantindo assim uma introdução abrangente à sua temática. Contudo, apesar do êxito em fornecer as informações necessárias, a obra peca no desenvolvimento do ritmo. A tentativa de criar uma atmosfera de tensão se perde em detalhes excessivamente burocráticos, tornando esta parte inicial arrastada. Superada essa fase, o filme adota uma abordagem mais tradicional do gênero, intercalando jump-scares com eficácia variável e concentrando-se em sequências de impacto visual. Entre estes momentos, destacam-se aqueles com excelentes efeitos práticos, que contrastam com outros menos convincentes, prejudicados pela qualidade inferior dos efeitos digitais. Este mix cria uma experiência desigual, que oscila entre o genuinamente assustador e o involuntariamente cômico.

As atuações são muito boas, com menção especial a duas delas: Nossa eterna Sônia Braga, encarnando uma figura de autoridade imbuída de uma sutil, porém palpável, ameaça. Do outro lado, Nell Tiger Free, que apesar de ser nova na indústria cinematográfica, apresenta uma performance surpreendentemente madura e convincente. Seu papel, exigindo uma gama diversificada de expressões emocionais e uma fisicalidade impressionante, é executado com uma precisão que desafia sua experiência.

A Nova Hollywood emergiu como um movimento cinematográfico revolucionário, enriquecendo o cinema com narrativas audaciosas que frequentemente desafiavam figuras de autoridade, no caso de “A Profecia”, a igreja. Naquela época, o clima de paranoia e conspiração dominava o cenário público e político. Décadas depois, observamos um panorama similar, com a sociedade novamente imersa em desconfianças e teorias conspiratórias, embora sob circunstâncias distintas. “A Primeira Profecia”, ao revisitar esse território, não apenas homenageia a audácia de seu predecessor, mas também se posiciona como um marco relevante para a atualidade. Embora possa ter falhado em entregar o mesmo nível de suspense, o filme se destaca em um mar de produções genéricas, potencialmente sinalizando o início de uma nova fase para a franquia.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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