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“O Menino e a Garça”: Hayao Miyazaki retorna à ativa em filme metafísico e absorto na própria beleza | 2024

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As obras do estúdio Ghibli tem, em sua esmagadora maioria, uma tangência íntima com o surrealismo abstrato que, com composições visuais arrebatadoras, conseguem fascinar o público e promover reflexões pós-sessão graças à pluralidade de interpretações possíveis.

Voltando às atividades após uma década sem lançar novos filmes devido a sua então anunciada aposentadoria, Hayao Miyazaki, diretor do premiado “A Viagem de Chihiro” (2001) concorre agora novamente ao Oscar de melhor animação com “O Menino e a Garça”, longa todo feito em traços japoneses que já venceu, inclusive, a disputada categoria de animação no Globo de Ouro 2024.

O cuidado com que  o filme é elaborado é de uma delicadeza ímpar e uma sutileza que permite afirmar categoricamente que qualquer frame pausado rende uma ótima pintura a ser apreciada em alguma galeria de arte. O roteiro de Miyazaki é baseado em um livro lançado em 1937, chamado ‘Como Você Vive’, de Genzaburō Yoshino, e a adaptação aqui é atrelada à visão do diretor sobre os argumentos filosóficos que o livro levanta em paralelo com a sua própria filmografia, gerando uma nova leitura para a obra clássica sem ser, necessariamente, fiel à ela em suas minúcias.

A trama acompanha Mahito, um jovem de apenas 12 anos que é órfão maternalmente e encontra uma garça falante e misteriosa nos arredores da casa nova onde vai morar com o pai e a tia, agora madrasta. Com a informação de que a mãe ainda estaria viva, ele parte em uma jornada para reencontrá-la e, com isso, se depara com alguns desafios inimagináveis.

Embora pareça simples em uma primeira vista, o filme adentra camadas e mais camadas de contemplação acerca dos preceitos vitais das pessoas e animais para, por fim, deixar uma mensagem digna de estudos psicanalíticos. Com uma série de aplicações visuais que remetem a outras obras consagradas do estúdio, “O Menino e a Garça” se aventura nas dinâmicas que são levantadas por duas perguntas universais: qual é o sentido da vida e o que vem depois dela.

A exploração do trauma da guerra e do luto materno são o ponto de partida para uma fantasia cheia de mistérios, bizarrices e absurdos que só o Ghibli consegue imprimir enquanto também deslumbra e assombra por seu detalhamento tão belo e sensível. Um forte candidato do Oscar 2024 que merece ser prestigiado no cinema.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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