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“Vermelho Monet”: Halder Gomes comanda elenco irretocável em trama sobre o mundo das artes | 2024

Quanto vale um amor original?

Com Vermelho Monet”, longa que esteve na Mostra competitiva do Festival de Vassouras no ano passado e que acaba de chegar ao circuito comercial, o cineasta cearense Halder Gomes apresenta uma vertente até então desconhecida do grande público. Pra quem estava acostumado a ver o diretor à frente de comédias populares de acento tipicamente cearense como “Cine Holliúdi” (que inclusive ganhou um formato de série na Globo) ou o “Shaolin do Sertão” (ambos estrelados pelo também cearense Edmilson Filho), vai se surpreender com os novos caminhos galgados por ele nesse novo filme, que em nada se parece com os trabalhos supracitados. E eu me pergunto : porque não desconstruir? Afinal ser plural também é atributo das mentes criativas.

Na trama seremos apresentados ao protagonista Johannes (Chico Diaz), um pintor que consagrou seu talento durante muito tempo aos interesses obscuros do mercado. Ele decide recomeçar sua vida em Lisboa ao lado da esposa, Adele (Gracinda Nave), igualmente talentosa pintora, mas que teve a carreira abreviada pelo precoce Alzheimer. Tentando recolocar-se nos eixos da autoralidade, buscando inspiração, ele ganha novas perspectivas ao conhecer Florence (Samantha Heck Müller), uma atriz internacional em crise criativa. É quando o passado retorna através da figura de Antoinette (Maria Fernanda Cândido), uma famosa marchand e connoisseur de arte, que vai tentar trazer Johannes de volta ao jogo pra salvar a própria pele por um negócio mal sucedido com um grande negociador de artes francês.

Do sertão nordestino, Halder leva seu filme pra a Europa: Lisboa, Paris e Londres estão entre esses cenários exuberantes e grandiosos, digno da grande produção que ostenta. Fernanda Cândido é uma marchand poderosa, ambiciosa e que não mede esforços para usar de meios sem compromisso com a retidão. Isso até ela conhecer Florence, que mexe com algo dentro dela que até então a profissional workaholic desconhecia.

No meio desse emaranhado de intrigas e negociações milionárias está o pintor vivido pelo grandessíssimo Chico Diaz, que faz de qualquer personagem um evento. Aqui ele dribla qualquer estereótipo e encarna esse artista decadente , que perdeu o sentido e a inspiração devido a um hiato criativo. É aqui que Halder se mostra inspirado, ao traduzir esse inferno astral pela ausência de cores na visão de Johannes, na exuberante fotografia de Carina Sanginitto. Ele persegue a cor vermelha com todas as suas forças e ela aprece em quase cem por cento das cenas, seja num item de decoração, numa obra de arte, em alguns figurinos, ou também nos beijos deixados em corpos nus.

Halder já admirava esse ambiente desde menino. Amante fervoroso das artes e da pintura, “Vermelho Monet” acaba sendo uma espécie de projeto íntimo, que tem a ver com sua infância, quando folheava os catálogos de pintores famosos. Não chega a ser um trabalho biográfico, mas que vem de memórias afetivas.

“Vermelho Monet” é grandioso não só pelo elenco mas também pelos cenários, filmados com muito refinamento. No entanto, para além do longo e desnecessário tempo de tela, estão os excessos na estética e na forma de conduzir os conflitos, que poderiam ser menos complexos e eruditos. Talvez uma mão menos pesada se traduzisse numa trama mais palatável. Não que isso seja uma determinante para a imersão, muito pelo contrário, mas existem caminhos na narrativa que poderiam ser mais objetivos para se tornarem menos enfadonhos.

Apesar disso, o desfecho promove um plot que confesso ter me surpreendido. O jogo de amor, interesse e ambição se fundem, o que me faz crer que trabalhos nessa linha e ainda mais interessantes podem estar vindo por aí através das mãos de Halder.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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