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“Venom 3: A Última Rodada”: Carnavalesco e expirado, filme investe no melodrama para simular o próprio adeus | 2024

Que bom que a gente não comeu essa família bacana

A dupla formada por Venom e Ed Brock, ambos interpretados por Tom Hardy com um entusiasmo apaixonado, conquistou um público notável e conseguiu chegar ao seu terceiro filme. Quem assistiu aos dois anteriores sabe que não dá para esperar muita coisa além do entretenimento escapista e descompromissado que tais filmes se propõem a ser, e é válido reforçar a ideia de que não há nada de errado nisso. Não é só de intelectualidade erudita que vive o bom cinema, e que atire a primeira pedra quem nunca riu de alguma cena estúpida ao ser contagiado pela gargalhada coletiva de uma sala de cinema cheia. Contudo, alguns filmes não conseguem se desvencilhar das próprias armadilhas, criando aleatoriedades tão esdrúxulas que caem facilmente em um abismo de apatia e fadiga. “Venom: A Última Rodada” é um ótimo exemplo disso.

Quando escrevi sobre o primeiro filme, lá em 2018, não o julguei como um fruto do cinema-arte, mas como a peça comercial que ele assumidamente é. Gostei do que vi, mesmo apesar do compilado de clichês e estereótipos que o filme trouxe em sua bagagem. Com a vinda da sequência em 2021, as coisas outrora charmosas começaram a parecer ainda mais gratuitas e despropositadas, como se feitas apenas para cumprir tabela e manter o personagem ativo no imaginário popular. Andy Serkis, o diretor, até tentou fazer alguma graça, mas o filme é tão recheado de qualquer coisa que a simples ideia de revisitá-lo já basta para gerar cansaço. Preguiça, provavelmente, seja o termo mais adequado. E o terceiro filme, que prometia ser o ápice desse primeiro arco, se mostrou tão desinteressado em cativar que, honestamente, fica inviável defender até mesmo os poucos bons momentos que o filme apresenta. Dessa vez, nem como boa peça publicitária o filme se presta.

Tudo que poderia ser potencialmente desenvolvido para explorar camadas dos protagonistas é largado à beira do caminho. A crise de consciência de Ed após causar uma morte, o ativismo totalmente desconexo pró causa animal, e até mesmo o lampejo de ambição por uma vida com uma família “normal”; nada disso é desenvolvido e, por consequência, também nada disso realmente importa. São só cenas que estão no filme para acariciar uma demanda politicamente correta que acabam fazendo com que o filme pareça extremamente hipócrita. Nem o fato importantíssimo de Ed ter tido o rosto veiculado em cadeia nacional como criminoso foragido mais procurado da América tem relevância, já que ele anda normalmente como se ninguém o tivesse visto na televisão. O resultado final é rocambolesco, no pior dos sentidos.

Não me lembro de ter visto no cinema em 2024 um filme com tantos diálogos expositivos como vi em “A Última Rodada”. O nível das interações entre os personagens é demasiadamente constrangedor e, mesmo embora a trama tenha algumas boas ideias, é derradeiro que quaisquer possíveis cenas memoráveis acabem se diluindo e se perdendo na vastidão de uma escrita que, de tão pouco inspirada, pode ser considerada expirada. Exprime-se aqui uma sequência lamentável de arquétipos em cima de cientistas e militares, de modo a enaltecer ou vilanizar lados, e de novo nada é relevante. Um broche de árvore de natal ganha destaque, um par de sapatos guardados em numa sessão sob a mesa, nada, absolutamente nada disso é justificado no decorrer da trama.

Cria-se um clima melodramático desprovido de naturalidade, onde as relações humanas pessimamente desenvolvidas tentam ser exploradas em teor emocional. Força-se uma jornada de redenção para a personagem de Juno Temple, mas não a desenvolvem o bastante para que a cena pretendida surta o efeito íntimo desejado. Enfim, o filme é um fiasco não por ser ruim, mas por ser vazio e insistir em dizer que é cheio. Vê-se aqui uma teimosia naquela velha mania de grandeza, onde a ideia do “mais” se sobrepõe à melhora e ao aprimoramento, e enchem a tela com variantes simbiontes mas, no fim das contas, nem isso preenche o nada que o filme se confirma com o subir dos créditos. “Madame Teia”, pelo menos, me divertiu. Este aqui, nem isso. Na verdade, passou longe de conseguir. Uma sessão cheia, com raros risos de embaraço por terem pago por um produto tão descartável. É frustrante.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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