“The Old Guard 2”: com troca na direção e promessa de novos rumos, novo capítulo continua a saga ampliando a própria mitologia | 2025
Às vezes rápido melhor que sutil

Uma das maiores surpresas de 2020, dentro do contexto caótico em que a pandemia encarcerou o mundo inteiro em casa, foi o lançamento de “The Old Guard” e seu estrondoso sucesso no catálogo da Netflix. Com o elenco encabeçado pelo nome de Charlize Theron, o filme conseguiu chamar atenção ao tratar a imortalidade como benção, maldição e ferramenta – tudo ao mesmo tempo. Ocorre que, cinco anos após aquela entrada à mitologia dos imortais, a sequência finalmente chega ao streaming vermelhinho com o furor da primeira impressão já passado, junto à promessa de resgatar o interesse público pelo título e, por consequência, engatar mais uma sequência para fechar ao menos uma trilogia.
A forma como “The Old Guard” está se estruturando me remete, inevitavelmente, ao caso da trilogia “Matrix”, realizada na virada do século pela dupla Wachowski. O primeiro filme, elaborado como introdução a um contexto fantástico e resolvido em si mesmo, deixa abertura para uma eventual sequência mesmo tendo um final conclusivo e satisfatório; mas o estúdio vê potencial monetário na marca e, para a alegria de quem gostou do primeiro filme, encomenda uma continuidade. Ocorre que, no caso da franquia em questão, a diretora Gina Prince-Bythewood (do também excelente “A Mulher Rei”, de 2022), não retornou ao posto para a sequência – por causa, pelo que consta nos autos, de conflitos de agenda. Como consequência, fica nítida a mudança de tom que a nova abordagem, agora assinada por Victoria Mahoney, traz ao modo como a equipe interage e à forma como a cinematografia se posiciona para registrar a ação.
O roteiro, embora não seja tão brilhante quanto o do anterior, tem sua criatividade bem desenvolvida para justificar alguns eventos do primeiro filme e ainda ampliar os horizontes dessa classe atípica de heróis, valorizando conexões entre os acontecimentos mas, em contrapartida, assumindo um custo alto de não se fechar em nada. Essa escolha narrativa reverbera nas interações entre os membros do grupo, cujos diálogos foram por vezes reduzidos a exposições pouco inspiradas e que cujas atitudes previsíveis se faziam nítidas desde muito antemão. Contudo, o conglomerado de atalhos e conveniências que brotam a cada cinco minutos não é suficiente para impor desgosto ao filme; pelo contrário, atiçam para a prometida terceira parte, já que esse é assumidamente um filme do meio e não tem vergonha de o ser.
“The Old Guard 2” evita a enrolação, foca na ação e adentra algumas camadas de sua protagonista. Uma Thurman tem presença com sua Discórdia, mas seu engajamento está mais inclinado à construção de mais uma promessa para a terceira parte do que a ser efetivamente desenvolvida aqui. É curioso que as partes dois e três não tenham sido gravadas em conjunto. Será que teremos que esperar mais meia década pela conclusão dessa história? Espero, honestamente, que não.