“Terrifier 3”: Ainda mais violento, Art, o Palhaço, ressurge em nova sequência de puro horror | 2024
Para os mais conservadores, a arte deve estar a serviço da virtude, já que possui o poder de influenciar valores, inspirar mudanças e promover princípios éticos. Em contraste, há quem veja a arte com um viés menos utilitarista, sem a obrigação de servir a uma causa ou propósito. A arte, nessa perspectiva, explora as contradições, os medos e até os aspectos sombrios da condição humana. É justamente nesses recantos obscuros que filmes como “Terrifier” encontram seu terreno, trazendo à tona uma expressão altamente subversiva e inquietante.
Na trama acompanhamos Sienna Shaw (Lauren LaVera), que, após os eventos devastadores de “Terrifier 2”, luta para reconstruir sua vida e superar o trauma recente. No entanto, sua paz é abalada quando Art (David Howard Thornton) ressurge, desta vez com a ajuda de Victoria Heyes (Samantha Scaffidi), agora possuída por uma entidade maligna. Juntos, Art e Victoria dão início a uma nova e violenta sequência de ataques, aterrorizando Sienna, sua família e todos que cruzam seu caminho.
Liderado por Damien Leone, “Terrifier” nasceu como um projeto independente que, apesar do orçamento reduzido, conseguiu romper barreiras e conquistar um espaço relevante no cinema mainstream. Hoje, em sua terceira sequência, o filme alcançou distribuição internacional e registra um expressivo retorno nas bilheterias, contrariando previsões de que a escalada de violência limitaria seu engajamento junto ao grande público. Essa intensificação da brutalidade, no entanto, levanta uma reflexão relevante: será que a exposição repetida a cenas cada vez mais grotescas não nos torna insensíveis ou até anestesiados? Diante disso, embora seja difícil traçar um limite claro, “Terrifier 3” parece insinuar que essa escalada de violência extrema pode estar alcançando seu ápice — o que não é exatamente um elogio.
Em relação ao segundo filme, Art introduz novas ferramentas e foca em vítimas ainda mais vulneráveis, mas o padrão de execução permanece o mesmo. Chama a atenção que, em vez de buscar a morte rápida, Art extrai prazer na tortura, golpeando os corpos até transforma-los em massas amorfas. Esse ciclo contínuo e repetitivo, paradoxalmente, reduz nossa resposta emocional: o excesso e a semelhança das ações transformam o mal em algo banal. Um dos aspectos mais inquietantes da condição humana é a capacidade de banalizar o absurdo, algo que ficou evidente durante a pandemia. Com o aumento constante do número de mortes diárias, não demorou para que essas perdas se tornassem mera estatística. Esse mesmo fenômeno parece começar a afetar a franquia.
A construção do vilão permanece o ponto alto. A parceria entre David Howard Thornton e Damien Leone deu vida a um personagem único, que se destaca por combinar elementos dos clássicos do terror com uma abordagem inteiramente original. Sem proferir uma única palavra, Art transmite uma presença ameaçadora e imprevisível, uma característica que fascina tanto quanto apavora. Sua personalidade mistura sadismo com uma teatralidade lúdica, visível em suas expressões faciais exageradas e gestos quase infantis, criando um contraste perturbador. O visual monocromático e a maquiagem pesada reforçam ainda mais essa aura desumanizada, projetando uma figura que ultrapassa a caricatura para se tornar uma encarnação do terror puro.
A franquia promete longevidade, e um quarto filme é tão certo quanto o nascer do sol. No entanto, assim como outros ícones do gênero slasher atingiram o auge para depois enfrentarem desgaste pela repetição, Damien Leone já encara o desafio de evitar que “Terrifier” siga esse mesmo caminho. Os sinais de uma exaustão criativa começam a surgir, e a tarefa de inovar enquanto preserva a essência brutal de Art será fundamental para manter o impacto da série.