“Sempre Garotas”: filme indiano vencedor de Sundance é “coming of age” que se passa aos pés dos Himalaias | 2025

Vencedor do Festival de Sundance, o filme indiano “Sempre Garotas ” chega aos cinemas brasileiros com boa avaliação da crítica e depois de passar por uma bem-sucedida rota de festivais de cinema. No total, foram 21 vitórias em diferentes categorias e premiações. No enredo, Mira (Preeti Panigrahi), é uma estudante de 16 anos em um internato localizado aos pés dos Himalaias que precisa lidar com a cultura rígida do local, manejar seus estudos, o interesse amoroso pelo seu colega de escola Sri (Kesav Binoy Kiron) e enfrentar sua mãe castradora Anila (Kani Kusruti).
Praticamente focado na relação das 3 personagens, a diretora e roteirista Shuchi Talati constrói em seu primeiro longa-metragem da carreira um “coming of age” que costura temas como o despertar sexual de uma mulher em uma sociedade machista, a difícil relação competitiva entre mãe e filha, e a tentativa de conciliar sucesso estudantil em um momento tão delicado como este. O sucesso da obra se deve em grande parte ao roteiro afiado de Talati, com seus diálogos inspirados, e ao trio de atores Panigrahi-Kiron-Kusruti. Enquanto Mira é uma garota centrada e inteligente que tenta servir de modelo para suas outras colegas, Sri é o estudante internacional mediano que busca se aproximar dela com segundas intenções. A relação amorosa do casal seria perfeita se não fosse a intromissão de sua mãe, que não só tenta podar ao máximo o florescer sentimental dos dois, mas também forçar uma espécie de queda de braço entre mãe e filha sobre quem tem o controle afetivo sobre Sri.
É uma interessante reflexão sobre certas situações da vida em que, mesmo tendo todo o aparato do conhecimento e sabedoria que Mira tem, nem sempre estamos preparados para as peças que a vida real nos prega decorrente das interações humanas. O famoso “street smart” versus “book smart”.
A atriz Preeti Panigrahi entrega um trabalho excepcional ao construir uma protagonista que, ao mesmo tempo que se projeta como uma fortaleza para a sociedade, deixa escapar fragmentos da sua vulnerabilidade diante de situações delicadas a que é exposta. Da mesma forma, Kani Kusruti tem a difícil tarefa de compor uma mãe com comportamentos não ortodoxos e imprevisíveis, fruto de sua imaturidade e da solidão que experimenta diante da criação de Mira.
A diretora Shuchi Talati não poupa esforços ao posicionar sua câmera como testemunha ocular da descoberta sexual do casal, com close-ups íntimos que traduzem a química palpável entre os dois. As tensões e barreiras emocionais entre mãe e filha desmoronam momentaneamente apenas em uma divertida e sensível passagem do enredo em que ambas dançam juntas em casa ao som da música “Teri Nazar”, interpretada pela cantora Harjot Kaur.
Sem dúvida, “Sempre Garotas” é um poderoso relato feminino sobre temas caros para mulheres que muitas vezes crescem em ambientes castradores sob convenções sociais e olhares de julgamento. Invoca tópicos pertinentes como o sexo adolescente sob a lente da mulher indiana, o autoconhecimento do próprio corpo e a complexa interação entre mãe e filha quando a maternidade vira competição e se desvirtua. Um caldeirão de emoções traduzidos de forma bem-sucedida através do olhar perspicaz da talentosa Shuchi Talati.