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“Ritas”: Doc opta pelo improviso, mistura memória e delírio deixando Rita Lee transbordar por todas as frestas | 2025

Enquadrar Rita Lee é como aprisionar raio em garrafa. “Ritas”, por sua vez, nem se dá ao trabalho, prefere dançar com os fragmentos de luz, permitindo que cada reflexo conte uma história. Esqueça o desfile de depoimentos solenes. Aqui, a artista faz questão de assumir a caneta e a câmera, seja gravando confissões caseiras ou colorindo o próprio passado com tintas que só ela saberia misturar.

No lugar do tom reverente, o documentário flerta com a psicodelia, costurando imagens de arquivo e planos que parecem resultado de uma viagem de ácido bem-humorada. Cores dilatadas, formas que escapam da lógica sóbria e convidam o espectador a embarcar em delírios compartilhados. Não há espaço para autoindulgência, tampouco para idolatria. A montagem, leve e cheia de irreverência, revela uma Rita mais interessada em brincar com suas próprias versões do que em fixar alguma verdade.

Ao tentar abraçar toda a carreira, o filme inevitavelmente passa rápido por episódios cruciais. A saída dos Mutantes, por exemplo, recebe o tempo exato que Rita julga necessário, sem pausas para digressões históricas ou ajustes de contas. O ritmo é ambicioso, às vezes apressado, mas o resultado é um convite generoso, feito tanto para fãs antigos quanto para quem pouco a conhece.

Seria ingênuo esperar que “Ritas” entregasse respostas embaladas para presente. Rita Lee nunca foi de facilitar o trabalho de ninguém, muito menos de quem tenta decifrá-la. O filme termina como ela, impossível de etiquetar, pronta para soltar um “me esquece” só para, na cena seguinte, lançar um aceno cheio de ironia. Entre um delírio colorido e outro, o documentário lembra que algumas histórias simplesmente não cabem no armário, nem na prateleira das unanimidades. E Rita, felizmente, nunca coube em lugar nenhum.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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