“Premonição 6: Laços de Sangue”: longa chega como o último suspiro de uma saga que nunca precisou de muito para funcionar | 2025

Nelson Rodrigues dizia que um dia sentiremos falta do canalha honesto. E, como sempre, estava certo. Profeta é isso: diz o óbvio. Mas o que essa profecia rodriguiana tem a ver com a franquia “Premonição”? Tudo. O primeiro filme, lá em 2000, foi um sucesso estrondoso. Custo baixo, retorno alto e uma ideia que, convenhamos, cabia em três linhas. Não demorou para a sequência chegar, em 2003, com aquele momento que virou trauma coletivo: o caminhão de toras de madeira. A partir dali, ficou claro que o verdadeiro propósito da saga está na criatividade aplicada a cada acidente grotesco. Quanto mais absurdo, melhor.
E nisso, “Premonição” sempre foi honesto. Diferente de “Velozes e Furiosos”, que tenta nos vender churrasco em família com carros voando no espaço, ou de “Jogos Mortais”, que acredita que frases de efeito sobre escolhas morais compensam a reciclagem de armadilhas enferrujadas, “Premonição” nunca teve vergonha de ser o que é, uma coletânea de mortes inventivas. Não quer ser mais do que isso. E por isso funciona. “Premonição 6 – Laços de Sangue”, a sequência mais tardia da franquia, lançada 13 anos após o último episódio, é uma retrospectiva da própria saga. Reúne os melhores e os piores momentos com a mesma energia de um especial de fim de ano.
Na trama, acompanhamos Stefani Reyes (Kaitlyn Santa Juana), uma estudante universitária que começa a ser atormentada por pesadelos recorrentes ligados a um desastre ocorrido anos antes. Incapaz de seguir com a vida normalmente, ela retorna à casa da família em busca de respostas. Lá, é recebida pelo pai, Marty (Tinpo Lee), e pelo irmão mais novo, Charlie (Teo Briones). A partir daí, o que deveria ser apenas uma reunião familiar estranhamente desconfortável se transforma numa contagem regressiva contra o destino.
Existe uma confusão comum ao se falar de filmes que lidam com eventos sobrenaturais ou improváveis: a ideia de que, por flertarem com o impossível, ganham uma licença automática para a inconsistência. Também não se trata de caçar furos de roteiro com lupa, às vezes, certas coisas simplesmente precisam acontecer “porque sim”. A trama precisa andar, e nem toda ligação entre o ponto A e o ponto B precisa ser brilhante. Mas o que “Premonição 6” entrega é algo diferente. Ninguém exige realismo (óbvio), mas um mínimo de coesão narrativa não deveria ser tão raro.
O filme propõe uma leve mudança de paradigma. Desta vez, a protagonista não é quem teve a visão e impediu o desastre, mas sim uma descendente da responsável por esse feito no passado. Isso naturalmente estreita a escala da história, focando em um núcleo familiar, e família, convenhamos, é um código emocional forte. Diferente de colegas ou conhecidos que só servem de carne para abate, o laço de sangue deveria adicionar algum peso dramático às mortes. Deveria. Porque o que se vê é uma narrativa que vai ganhando contornos cada vez mais erráticos, como se o roteiro soubesse de onde veio e para onde vai, mas estivesse completamente perdido no trajeto. O resultado? Decisões que oscilam entre o confuso e o involuntariamente cômico.
No fim das contas, “Premonição 6” talvez não seja o retorno glorioso que os fãs esperavam, mas sejamos francos, quem realmente esperava alguma glória aqui? A franquia nunca prometeu arte, apenas engenhosidade homicida com um toque de sadismo cômico. E nisso, ela segue fiel como um bom canalha. O problema é quando o canalha começa a querer bancar o sensível. Tenta dar profundidade aos personagens, insinua um drama familiar e tudo desaba como uma sequência mal ensaiada. O roteiro se arrasta sem convicção, como se tivesse sido reescrito às pressas por alguém que esqueceu o que estava contando. Os personagens existem apenas para morrer (ok, sempre foi assim), mas aqui mal ganham forma antes de virar estatística. O que sobra, além da Morte, essa sim, sempre pontual e criativa, é a sensação de que a franquia perdeu o pouco charme cínico que ainda lhe restava.