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“Possessões”: Filme de Tiago Santiago aposta em terror com pegada brasileira | 2024

Não dá pra mensurar a tarefa hercúlea que é fazer cinema no Brasil.  Desde a captação de recursos até a pós produção, são muitos entraves que fazem muitas produções nem verem a luz do sol. Depois te tantos processos ainda existe a árdua luta em se conseguir um horário na grade em meio à tantas produções de grandes estúdios que dominam as salas. Sem falar no efeito cascata gerado por um período pós pandemia que fez represar muitas produções nacionais que brigam por um horário minimamente aceitável para que um filme brasileiro consiga romper com uma  segunda semana em cartaz.

Tiago Santiago, que tem uma lista extensa de trabalhos para a televisão, rodou “Possessões” há cerca de dez anos e só agora consegue exibir seu primeiro longa-metragem nos cinemas, exclusivamente nas salas da Rede Cinesystem, o que claro, limita o alcance da obra chegar ao grande público. Com uma janela tão grande entre filmagens e lançamento, já era esperado que não veríamos um projeto ousado, ao menos quando pensamos no campo dos efeitos visuais.

Depois de passar por alguns festivais  e  ter levado o prêmio de Melhor Filme no Rio Fantastik, Los Angeles International Film Festival e Spotlight Gold Award o longa chega aos cinemas trazendo duas histórias que flertam com o terror e são entrelaçadas pelo mesmo tema: a possessão maligna. “Obsessão” conta a história de um casal de noivos, Marta (Fernanda Nobre) e Carlos (Marcelo Serrado) que são surpreendidos pelo espírito de uma mulher que o noivo prejudicou no passado,  que está em busca de vingança. Já em “O Portal”, Leila (Juliana Xavier), vive uma jovem que se muda para um apartamento e luta entre o medo de enlouquecer e a certeza crescente de que o lugar é um portal do mal, onde uma mulher foi assassinada e outra se suicidou.

Ainda que aborde uma temática que se replicou aos borbotões no cinema de horror ao redor do mundo, é bem verdade que “Possessões”  tem a novidade do DNA brasileiro. Ao introduzir um Pai de Santo (Antônio Pitanga)  na história que abre o longa, o filme insere brasilidade ao apostar nas religiões de Matriz Africana, tão próxima das nossas raízes, contudo, falta profundidade e coesão, uma vez que o roteiro não nos dá tempo para conhecermos melhor o casal e permitir que a história pregressa nos interesse para que o futuro desses personagens passe a também nos importar.

A segunda história, um tanto melhor desenvolvida, tem o trunfo de ter uma protagonista, – Juliana Xavier, que brilhou em “Justiça 2”-, que consegue atrair todos os holofotes para si, mesmo diante de um roteiro raso e genérico. Juliana é um nome a ser observado, pois tanto na série do Globoplay quanto aqui, a jovem atriz se destaca, ainda que tenha pouca matéria prima para explorar.

Somado aos problemas de edição e montagem, estão também performances sofríveis, como é o caso de Marcelo Serrado e Dado Dolabella, que parecem estar totalmente desconectados do propósito de seus personagens. “Possessões”, ainda que possa parecer contraditório, tem a seu favor refrescos cômicos, sobretudo através do personagem de Tuca Andrada, um porteiro que morre de medo de assombração, além do tempo de tela (cerca de 75 min), que contribui para deixar a experiência menos maçante.

O Brasil ainda está tateando nas superfícies do cinema de gênero. Não somente pela ausência de tradição em trabalhar o tema ou pela escassez de recursos, o filme de estreia de Tiago Santiago fica bem aquém do esperado quando fazemos um paralelo com o cinema coreano ou mesmo o espanhol, que não raras vezes entregam boas produções de horror. Nem estou falando propriamente de dinheiro, e sim de criatividade para galgar seu próprio lugar e achar uma brecha entre tantos temas a serem explorados com a nossa cara. É válido que Santiago invista nisso em seu filme, mas infelizmente acaba pecando pela ausência de um roteiro melhor desenhado e uma retaguarda mais bem preparada.

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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