“O Jogo da Morte”: No estilo ‘desktop movie’, longa mergulha nas profundezas sombrias da web | 2024
Em 2015, um fenômeno perigoso começou a se disseminar. Tratava-se do jogo “Baleia Azul”, composto por uma série de desafios diários e autodestrutivos, culminando em um “convite” ao suicídio. Os primeiros relatos têm origem na Rússia, mas também ocorreram casos registrados no Brasil. Uma verdadeira história de horror que, inevitavelmente, atraiu a atenção do cinema. Entretanto, há um aspecto ético crucial a considerar: seria de extremo mau gosto uma narrativa que espetacularizasse ou trivializasse esses eventos. Felizmente, “O Jogo da Morte” não comete esse erro, incorporando em sua trama uma denúncia urgente e relevante. No entanto, em termos criativos, o filme deixa a desejar.
Na trama, acompanhamos Sara (Dana Abded), uma jovem determinada a desvendar o mistério por trás da morte de sua irmã. Sara descobre uma perturbadora rede de violência, ameaças e manipulações que envolvem jovens ao redor do mundo, todos conectados por meio de jogos e desafios na internet. Determinada a expor a verdade e acabar com essa perigosa dinâmica, Sara se vê envolvida em um perigoso jogo de gato e rato, colocando sua própria vida em risco.
O formato “desktop movie” ou “screenlife” é uma tendência que se popularizou na última década e ganhou ainda mais impulso no pós-pandemia. Esse formato utiliza telas de computadores, celulares ou qualquer outro aparelho com acesso a internet como meio de contar uma história. Um exemplo recente e bem-sucedido desse estilo é o filme “Desaparecida” (2023), que demonstra as diversas possibilidades que essa abordagem pode oferecer à narrativa. Mas é importante reconhecer que qualquer nova técnica está sujeita a convenções cinematográficas. No caso de “O Jogo da Morte”, o filme falha na incapacidade de evocar emoções, algo que a linguagem cinematográfica tem grande potencial, mas que aqui não encontra sua voz.
O fato de uma jovem adolescente impulsiva conduzir uma investigação criminal permite certos amadorismos, porém, dada essa mesma inexperiência, espera-se um senso de urgência e perigo mais evidente. Infelizmente, isso não ocorre. Em vez disso, o filme apresenta uma sucessão de descobertas derivadas de sites de busca, seguidas de conclusões objetivas e com pouco espaço para subjetividades. Isso enfraquece o impacto, especialmente porque as revelações e viradas decorrentes dessas revelações são extremamente anti-climáticas. Geralmente, nos pontos de virada (ou plot-twist) espera-se momentos de tensão, nos quais o público eleva a torcida para o mocinho(a) e/ou coloca em xeque a vilania do algoz, mas essas variações e ambiguidades não acontecem em “O Jogo da Morte”.
A internet abriu uma verdadeira caixa de Pandora. Embora seja apenas uma ferramenta e as atitudes perversas que dela derivam não sejam novas – afinal, a humanidade as pratica há milênios -, o anonimato proporcionado pelas redes sociais permite que o pior de nós seja liberado. A regulamentação e a educação representam apenas o começo. Aqui fica um alerta importante: se você estiver enfrentando sentimentos de depressão, procure ajuda.