“O Auge humano 3”: Mistura de ficção com documentário explora a juventude em países como Sri Lanka, Peru e Taiwan | 2024
Em 2016, o diretor argentino Edward Williams lançou o filme experimental “O Auge Humano”, obra que teve reconhecimento pelo Festival de Locarno e foi lançada no Festival de Toronto e de Nova Iorque daquele ano. À época, Williams foi celebrado como um nome proeminente do subgênero de cinema denominado “Slow cinema”. Agora, surfando no mesmo conceito do anterior, propõe uma espécie de continuação, que pula diretamente para o “terceiro capítulo” ao reverter convenções e ignorar um segundo episódio do que agora pode se tornar uma série de filmes (ou não…).
O filme se divide em diversas cenas aleatórias de jovens interagindo entre si e com o ambiente que os cerca em países como Sri Lanka, Peru e Taiwan. A câmera de Williams acompanha esses personagens realistas em vastos campos abertos, seja rodopiando em seu eixo 360 graus ou distorcendo a imagem utilizando equipamento comumente usado para tirar fotos ou gravar vídeos panorâmicos: Insta360 Titan. O público tradicional pode estranhar o jogo visual que o argentino utiliza para contar suas histórias, afinal aqui a câmera também é um personagem nesta narrativa, o que pode muitas vezes mais distrair do que ajudar na conexão do público com aquelas histórias. A experiencia de “sentir a direção” pode mais sabotar do que contribuir no grande jogo de ideias de um filme, algo que o diretor não parece se importar ao vender esta estilística como um de seus traços autorais.
Existe um estranhamento em como Edward Williams propõe abordar as histórias destas pessoas, há muito espaço para contemplação, imagens do ócio e diálogos que capturam o que a juventude em diferentes localidades busca se ocupar para matar seu tempo e fugir de empregos nada empolgantes em locações compostas por céus nublados, pouca luminosidade e um constante tom melancólico. De comentários sobre sonhos bizarros que jovens têm tido até o quanto pessoas se sentem vazias e entediadas em seus trabalhos, “O Auge Humano 3” constrói um mosaico de interações de individuos que entram e saem do quadro em longos takes que distorcem os atores que se encontram nas laterais da tela. Em outro momento, Williams repousa sua câmera em frente a uma espécie de pântano e fica por quase 5 minutos com a câmera ligada e estática capturando o local e o som ambiente sem nenhuma conexão aparente com os personagens.
Como um quadro de arte abstrato, esta obra do diretor argentino não se interessa por explicar as distorções, a estética ou as decisões artísticas por si só, decorrem de experimentações e o público precisa comprar a proposta e interpretar da forma que lhe cabe. Um exercício que até assombra o cinema hollywoodiano enlatado de ter tudo detalhadamente explicado e destrinchado pelo roteiro para não haver qualquer dúvida sobre o entendimento da storyline. É um filme que o público precisa ir de cabeça aberta para enfrentar suas duas horas de reflexão, caso contrário, poderá ser uma experiência deveras maçante.