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“Missão: Impossível – O Acerto Final”: reverenciando a própria franquia, filme marca apoteose simbólica a Tom Cruise | 2025

Por aqueles que nunca conhecemos

Poucos artistas conseguem construir um legado tão relevante dentro de seu campo como Tom Cruise o vem construindo. Sendo para o público de hoje o que Buster Keaton foi para o seu tempo, Cruise ganhou os louros populares de ter salvado do cinema em 2022 com o lançamento de “Top Gun: Maverick”, obra essa que se dispôs como uma experiência cinematográfica indispensável às telonas após dois anos de pandemia e alta aderência aos serviços de streaming, que se mostrou fundamental para a retomada do público às salas.

O novo filme do astro sessentenário, “Missão: Impossível – O Acerto Final”, não só entende a importância disso como também presta um valioso tributo tanto ao ator quanto à própria saga de ação construída por ele ao longo de trinta anos – e isso traz às mirabolâncias e correrias clássicas de Cruise um tom de melancolia intertextual que enaltece não somente o homem, mas também a lenda que Cruise está se tornando.

O oitavo filme da saga de Ethan Hunt é uma espécie curiosa de apoteose ao personagem e ao seu intérprete. Vendido como um ato final e recheado por uma carga dramática que leva o público a temer pelo desfecho que será dado ao agente da extinta IMF, o filme continua a trama apresentada no capítulo anterior, de 2023, e resgata também vários bons elementos dos filmes pregressos, unindo o que de mais relevante existiu para a franquia em uma congruência que converge ao prometido último marco. O debate filosófico sobre dilemas, ética e o uso de inteligências artificiais visto em “Acerto de Contas” dá aqui lugar a uma subtrama política bem elaborada, que expressa com boas verdades a pressão de lideranças sob a iminência de uma nova guerra mundial e, dessa vez também, do fim do mundo. A IA que precisa ser combatida é o tipo bicho-papão mais provável de ser visto em um futuro próximo, e essa percepção da ameaça iminente é mais um reflexo de como os filmes “Missão: Impossível” evoluíram ao longo dos anos de modo a espelhar os receios que experimentamos do lado de cá da tela.

Curiosamente, “O Acerto Final” funciona também como unidade – isto é, caso o espectador não conheça os demais filmes, a contextualização é tão didática que torna plausível a compreensão plena do todo que compõe a jornada de oito filmes de forma prática e eficiente. O roteiro tem elipses nítidas em sua primeira hora, com uma montagem mais ágil e cenas mais curtas, como se buscasse cativar a “geração TikTok” – o que pode parecer apressado para público já cativo, mas isso é só para fazer a ponte entre esses dois últimos filmes sem precisar reposicionar de forma demorada as peças mais importantes no tabuleiro. Além disso, existem atalhos que são tomados no decorrer do filme e situações de sobrevivência que fazem valer o impossível anunciado no título.

Com isso, o mais novo capítulo desse universo onde armas biológicas e cibernéticas competem com atentados e ameaças nucleares (além de máscaras hiperrealistas e artifícios de infiltragem) se estabelece como mais um grande acerto, que espero, de coração, que não seja o acerto final. Em uma era de telas verdes e composições digitais, a sétima arte precisa (e muito) de mais filmes como os espetáculos que Tom Cruise entrega.

Vinícius Martins

Cinéfilo, colecionador, leitor, escritor, futuro diretor de cinema, chocólatra, fã de literatura inglesa, viciado em trilhas sonoras e defensor assíduo de que foi Han Solo quem atirou primeiro.

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