“Intruso”: Ficção questiona os limites da polêmica Inteligência Artificial | 2024
Pegue os astros indicados ao Oscar Paul Mescal e Saoirse Ronan como protagonistas, mais a ótima premissa sobre o uso de Inteligência Artificial para substituir os humanos, mais um diretor competente e também indicado ao Oscar como Garth Davis (de “Lion” e “Maria Madalena”) e voilà, temos um filme excelente, certo? Em partes, pois “Intruso”, adaptação do livro homônimo do escritor Iain Reid, tinha tudo para ser ótimo mas, apesar de ter algumas qualidades, não funciona como um todo e peca no quesito carisma.
A trama se passa num futuro distópico onde o planeta foi dilapidado no limite e se tornou quase inabitável, e alguns poucos escolhidos estão migrando pra colônias interplanetárias. Acompanhamos o casal Hen e Junior que, apesar das circunstâncias inóspitas e do planeta triste, conseguem ser felizes com o grande amor que nutrem um pelo outro e o pouco de alimentos que eles mesmos cultivam na fazenda que está na família há gerações. Um dia chega um visitante inesperado com uma proposta bizarra: enviar Junior para uma colônia e deixar no seu lugar um humanóide cópia sua; e isso os coloca num dilema, ameaçando essa relação harmoniosa e trazendo à tona questões éticas e filosóficas desconcertantes.
A partir daí a narrativa trabalha questões sobre como agimos e o que sentimos frente à Inteligência Artificial. Os diálogos do casal exalam sentimentos confusos sobre amor, identidade e a possibilidade de nutrir algum afeto por algo feito artificialmente. A destruição da Terra pelo homem, um tema importante visto que é pano de fundo para a trama, é praticamente colocado de lado.
O longa traz uma atmosfera de suspense psicológico onde pairam no ar alguns mistérios que a princípio intrigam, mas depois parecem girar em círculos sem muitas conclusões; o filme se torna entediante e as quase duas horas de exibição parecem intermináveis. Depois de já perder o interesse pela história, o desfecho traz uma reviravolta que não empolga e que parece requentada, replicando filmes de ficção cientifica de peso como “Blade Runner”.
Paul Mescal e Saoirse Ronan são ótimos atores e se entregam aos personagens em atuações marcantes, porém não conseguem salvar o filme da monotonia, as situações que os personagens vivem são em sua maioria vazias e sem consequências relevantes para a história.
A questão do uso da Inteligência Artificial é urgente e por si só rende bons conteúdos. O seu surgimento recente e uso indiscriminado para fins diversos deve ser discutido amplamente para que limites sejam colocados e para que, futuramente, haja legislação sobre o tema. Usar a voz de pessoas já falecidas, forjar imagens, notícias ou até a presença de alguém: qual o limite pro bom senso? E como ficam os direitos autorais? Aguardemos essa premissa ser bem desenvolvida em outra produção, porque em “Intruso” ela deixou a desejar, e muito.