“Gaiola Mental”: Produção recém-chegada à Netflix propõe um embate psicológico entre detetives e serial killers | 2022
Um dos tipos mais recorrentes de trama policial é aquela em que detetives precisam da ajuda de um criminoso excêntrico com Q.I. acima da média para capturar outro psicopata, numa corrida contra o tempo para que mais pessoas não sejam vitimadas. O clássico “O Silêncio dos Inocentes” e o ótimo “Copycat – A Vida Imita a Morte” são dois dos exemplos mais bem sucedidos deste modelo de enredo e, não à toa, parecem compor as principais fontes de inspiração para “Gaiola Mental”, produção recém-chegada ao catálogo da Netflix que já desponta como um dos sucessos da plataforma neste início de ano.
Martin Lawrence e Melissa Roxburgh interpretam a dupla de policiais que precisará visitar na prisão o serial killer autointitulado “O Artista”, vivido por John Malkovich, em busca de alguma pista que os ajudem a encontrar um novo assassino que se assume como um imitador da “obra” do prisioneiro às portas de sua execução. Formada em psicologia, a detetive Mary Kelly (Roxburgh) rapidamente se torna a ponte escolhida pelo maníaco, já que Jake Doyle (Lawrence) se recusa ficar frente a frente com o responsável por tantas mortes, entre elas, a de seu parceiro.
“Gaiola Mental” propõe de forma atabalhoada aquilo que seu título sugere: uma história pautada por jogos psicológicos envolvendo criminosos geniais e esforçadas figuras da lei que parecem estar sempre dois passos atrás. No entanto, o roteiro desastroso de Reggie Keyohara não consegue nem ao menos copiar (como o personagem que faz sua trama andar) a cartilha dos longas que lhe serviram de inspiração. Os diálogos são tão cerebrais quanto um sudoku e as situações criadas, quando não esbarram nos mais elementares clichês (eu ficaria até feliz se o longa fosse formado só por eles) atingem o ridículo do modo mais vexatório possível. Basta observar as pífias tentativas de inserir pistas falsas para o espectador ou inserir elementos sobrenaturais da maneira mais aleatória que se possa imaginar – repare na cena em que Jake testemunha uma “possessão” ou nos muitos flashbacks explicativos – para perceber que filmaram um rascunho.
A direção de Mauro Borrelli também merece suas linhas. Impressiona a incapacidade do sujeito na condução de uma narrativa que falha miseravelmente em imprimir o mínimo de tensão. Para tentar compensar sua incompetência, a trilha sonora está quase sempre nas alturas na tentativa desesperada de criar uma atmosfera de mistério, e a montagem busca a todo instante salvar cenas sem qualquer ritmo ou fluidez, como a da patética luta seguida de perseguição a um suspeito que surge e desaparece do nada. Mas a emenda sempre parece ficar pior que o soneto. Compare tal sequência com a realizada por David Fincher em “O Assassino” (presente na mesma plataforma) e verás o que é um legítimo profissional do ramo em ação. É de dar dó.
Por fim, para descer a lona deste circo de horrores que é “Mindcage” (no original), é preciso falar das atuações. Não escondo minha curiosidade pelo embate entre atores de estilos tão diferentes quanto Martin Lawrence e John Malkovich. Entretanto, bastaram-me cinco minutos para perceber que assistira a um verdadeiro festival de caretas, isso sem falar na apática presença de Melissa Roxburgh (que Jodie Foster passe longe disso aqui para não se ofender…) e de um elenco de apoio de quinta categoria. Filme que não mereceria sequer uma vaga na grade do Supercine, este monumento à cara de pau aprisiona e tortura por perpétuos cem minutos qualquer um que estiver à caça de uma história investigativa realmente inteligente protagonizada por personagens de fato instigantes. Se abrirem uma porta, fuja!