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Festival do Rio: “Honey, Não!”, de Ethan Coen

Longa brinca com o ridículo, o caos e a violência gratuita

Em “Honey, Não!”, Ethan Coen reafirma o gosto pelo humor construído no contraste. Personagens se levam a sério em situações ridículas, atravessam a violência como se fosse rotina e transformam o absurdo em gesto cotidiano. A lógica lembra “Queime Depois de Ler”, onde tragédia e comédia se embaralhavam até perder fronteiras, e o deboche se tornava a chave para lidar com o caos.

A temporalidade ambígua reforça essa sensação de deslocamento. Um detalhe como a menção à Covid indica que estamos no presente, mas os objetos que circundam a protagonista remetem a décadas passadas. Telefones fixos, carros fora de moda e figurinos desalinhados compõem uma estética anacrônica. O resultado é um cenário que recusa a estabilidade, uma realidade construída de restos e camadas que nunca coincidem.

O elenco dá corpo a esse universo instável. Margaret Qualley sustenta a narrativa com energia e versatilidade. Chris Evans confirma que não se contenta com papéis de galã, investindo em composições mais ambíguas e/ou vilanescas desde o primeiro “Entre Facas e Segredos”. Aubrey Plaza, mesmo pouco aproveitada, imprime sua marca em cada cena, se mostrando ponto de gravidade no jogo farsesco.

Separados, os irmãos parecem seguir por rotas bem distintas. Joel opta por um cinema mais austero em “A Tragédia de Macbeth”. Ethan, por sua vez, abraça o camp, o exagero e um humor que se faz valer de liberdades típicas do “B-movie”. Isso posto, “Honey, Não!” não atinge a força dos melhores trabalhos assinados em dupla, mas assume um caminho próprio, menos solene e mais interessado em explorar os excessos. O resultado é irregular, e é justamente nessa irregularidade que pulsa a liberdade de brincar com estilos e desmontar convenções.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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