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“Família”: Drama japonês retrata relação familiar e movimento dekassegui | 2024

Ambientada no Japão, a trama do longa “Família” acompanha dois núcleos. Seiji é um senhor ceramista viúvo que vive isolado numa casa nas montanhas de Kyoto; um dia seu filho Satoru vem visitá-lo junto da noiva, depois de passar muito tempo trabalhando como engenheiro na Argélia e, apesar da prosperidade, ele almeja voltar pro Japão para morar com o pai e seguir seus passos como artesão – iniciando um conflito nessa relação que já era frágil. Do outro lado conhecemos Marcos, imigrante brasileiro que aparece na casa do ceramista fugindo da gangue de criminosos Enomoto, ele é então ajudado pelo pai e filho, enxergando neles uma chance de recomeço e de acolhimento.

Kôji Yakusho, que foi indicado ao Oscar por “Dias Perfeitos”, é um dos grandes nomes do cinema japonês e aqui seu talento não falha, a emoção discreta de Seiji comove no desentendimento com o filho, na gana de ajudar os imigrantes brasileiros reprimidos pela máfia, e na paixão pela arte da cerâmica, que não coloca comida na mesa mas é bela em suas minucias. Porém, apesar da sua ótima atuação, Koji não consegue salvar o filme do desastre e confusão absolutos. As sequências das brigas dos delinquentes nas boates e nas ruas são péssimas e desnecessárias, assim como uma cena de sexo que parece saída de um melodrama ruim. O elenco brasileiro tem uma atuação medíocre que faz desmoronar qualquer tipo de empatia que poderia surgir pelos personagens.

O roteiro de Kiyotaka Inagaki traz inúmeros temas relevantes, como o movimento dekassegui, dos imigrantes brasileiros no Japão em busca de uma vida melhor, mas que são discriminados e vivem em busca de pertencimento. O drama entre pai e filho tentando se reconectar depois de várias mágoas passadas tem várias nuances que foram pouco exploradas. Os diferentes tipos de família que podem se formar a partir de laços de afeto e convivência, e as relações interculturais estão presentes porém mal exploradas. E, por fim, o dilema entre ser feliz e pobre ou ganhar dinheiro num emprego que não satisfaz.

O diretor Izuru Narushima pecou pelo excesso de assuntos que ele não conseguiu conectar ou se aprofundar minimamente, todos são enfileirados em sequências muito mal editadas, deixando o espectador perdido, além de quebrar o raciocínio e uma possível emoção gerada pela trama. “Família” tinha potencial para ser um bom filme, eu tinha expectativas razoáveis quando li a sinopse, e é uma pena que tenha sido desperdiçado.

Karina Massud

Formada em Direito, cinéfila desde os 5 anos de idade, quando seu pai a levou para assistir “Superman-o Filme”. Cachorreira, chocólatra, fã ardorosa de séries, músicas, literatura e tudo que emocione.

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