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“Estômago 2 – O Poderoso Chef” : Sequência do clássico de 2007 aposta na sátira em comédia tipicamente brasileira | 2024

A crise no cinema, especialmente no contexto pós-pandemia, tem sido amplamente discutida. Embora o setor tenha demonstrado alguns sinais de recuperação, a instabilidade persiste. Uma das estratégias da indústria tem sido investir pesado em sequências, remakes e franquias, como evidenciado pelo fato de que, em 2023, das dez maiores bilheterias, apenas duas são produções originais. No entanto, isso não deve ser visto necessariamente como um problema. Sequências podem agregar valor, permitindo ao público revisitar personagens queridos e explorar novas camadas de histórias já conhecidas. Um exemplo recente de sucesso é “Top Gun: Maverick”, que conseguiu equilibrar nostalgia com inovação. Contudo, para alcançar esse tipo de sucesso, é crucial harmonizar o retorno ao familiar com elementos que tragam frescor à narrativa. Infelizmente, “Estômago 2 – O Poderoso Chef” falha em ambas as frentes, incapaz de oferecer tanto o conforto nostálgico quanto a novidade que se espera de uma boa continuidade.

Após anos na prisão, Nonato (João Miguel) constrói uma poderosa rede de contatos graças às suas habilidades culinárias, ganhando a confiança e o respeito de figuras influentes dentro da cadeia. Entretanto, essa aparente harmonia é ameaçada pela chegada de um notório mafioso italiano, que desafia a autoridade do comando local, gerando tensão e instabilidade.

Em 2007, “Estômago” surpreendeu a todos, conquistando tanto o público quanto a crítica com sua trama tragicômica e a brilhante atuação de João Miguel, que encarnou Raimundo Nonato, um migrante nordestino em busca de uma vida melhor em São Paulo. Como milhões de outros, Nonato chega à cidade com quase nada, enfrentando exploração, traições e desencantos ao longo de sua jornada. O filme se destaca por sua crítica social, que é ao mesmo tempo bem-humorada e visceral nos momentos certos.

“Estômago 2” chega 17 anos depois com uma proposta ousada, unindo o submundo do crime nas cadeias brasileiras com a máfia italiana. E sim, estamos falando daquele estereótipo clássico da máfia, onde homens de terno fumam charutos e devoram macarrão como verdadeiros trogloditas. O longa de 2024 pouco se assemelha ao original de mais de uma década atrás, que contava com um orçamento modesto compensado com muita criatividade. Mesmo os personagens que retornam, especialmente Nonato, pouco lembram suas versões anteriores. É verdade que o tempo passou e ninguém permanece igual, mas, enquanto antes tínhamos um personagem que equilibrava ingenuidade e astúcia, agora nos deparamos com o estereótipo do nordestino, desajeitado e com expressões limitadas a sorrisos de canto de boca. Em suma, tudo e todos são reduzidos a caricaturas, com uma crítica social rasa e simplista.

O filme adota a estrutura do original contando duas histórias em paralelo, mas desta vez, o foco no passado recai sobre Roberto, cuja trajetória é previsível e recheada de clichês típicos de sátiras de filmes de gangster. Além disso, o roteiro comete o grave erro de deslocar a narrativa para outra parte do mundo, eliminando o elemento mais precioso do primeiro filme: sua brasilidade.

Para nosso azar, “Estômago 2” falha enquanto sequência e desperdiça uma grande oportunidade. No entanto, o legado do original permanece vivo, e nada apaga a joia que foi o longa de 2007, que continua sendo, sem dúvida, um dos melhores exemplares do cinema nacional do século XXI.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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