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“Eros”: documentário faz tour por motéis e investiga o perfil diverso de seus frequentadores | 2025

A cineasta Rachel Daisy Ellis, uma brasileira/britânica radicada em Recife, tem estrada fazendo cinema em sua produtora, onde é cofundadora desde 2010, mas o documentário “Eros”, que chega essa semana aos cinemas brasileiros, é seu primeiro trabalho solo à frente da direção. Sua estreia investiga o fator mítico por traz dos motéis, que  considera como a maior instituição de sexo do Brasil. Pra uns, um antro de pecado e perdição, para outros, um refúgio para amar sem medo, sem ser julgado ou apontado. Para isso a cineasta adota um formato que nada mais é do que um compilado de vídeos amadores feitos por seus frequentadores, dentro das quatro paredes que guardam segredos, fetiches ou quem sabe um amor proibido.

O projeto de Daisy Ellis acompanha diferentes clientes de motéis por diversas cidades do país, convidados a se filmar durante a estadia em suítes dos mais variados tipos. Com esses registros, entre casais, garotas de programa e até um homem solitário, a realizadora constroe um retrato da psique sexual e emocional de toda uma nação. Com os videos produzidos, o filme questiona e tensiona discussões para além do sexo, buscando compreender os horizontes da sexualidade e das relações humanas.

Em “Eros” a escolha da direção por resultados mais orgânicos, evidencia a opção por deixar as imagens por conta daqueles que se habilitaram a se tornar “personagens” nessa investigação. Mas, se por um lado se torna muito instigante acompanhar essa espécie de “Big Brother” para maiores, por outro, a experiência perde algum impacto pela deficiência do som direto, provavelmente por conta de alguns dos aparelhos de celular usados para captar as imagens das aventuras do elenco através das quatros paredes que escondem peculiaridades, taras e  intimidades.

Diversidade é a palavra de ordem aqui. Os recortes dessa odisseia de esperiências íntimas, passam por um casal evangélico que evoca um versículo do livro de Deuteronômio — que diz que todo lugar onde um santo coloca a planta do pé, ele se torna abençoado —, por amantes fetichistas que curtem dominação e sadomasoquismo, e até um relato emocionante de uma travesti que sonha em ser enfermeira e que usa o motel pra viver um grande amor, que resiste ao preconceito e à invisibilidade. Há quem também faça a cama de um motel de divã, desabafando sobre insucessos nos relacionamentos.

Não há censura nas imagens feitas pelos convocados para mostrar o que rola entre as quatro paredes dessa famosa instituição tão demonizada por muitos. Trocando em miúdos, vale dizer que é “Eros” tem um conteúdo 18+, e é justamente essa escolha que confere o selo de autenticidade ao enfoque de Daisy Ellis, que chega essa semana ao circuito depois de passar por importantes festivais, como o CPH:DOX, Mostra de Cinema de Tiradentes, Queer Lisboa, Porn Film Festival e Janela Internacional de Cinema.

Mesmo  com um aúdio ou outro incompreesível, recomendo a experiência, afinal, todos nós um dia espiamos pelo buraco da fechadura e foi exatamente essa sensação que tive ao assistir. Meu lado voyer me perguntou: genial… como ninguém teve essa ideia antes?

Rogério Machado

Designer e cinéfilo de plantão. Amante da arte e da expressão. Defensor das boas causas e do amor acima de tudo. Penso e vivo cinema 24 horas por dia. Fundador do Papo de Cinemateca e viciado em amendoim.

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