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“Éramos Crianças”: Destaque do Festival de Cinema Italiano é thriller neo-noir que aborda traumas do passado | 2024

Um dos destaques do Festival de Cinema Italiano no Brasil deste ano, que ocorre de 7 de novembro a 8 de dezembro, é o filme “Éramos Crianças” (2024) do diretor e co-roteirista Marco Martani, que aqui constrói uma colcha de retalhos no terço inicial do filme, apresentando a vida de cada uma das personagens e seus distintos contextos em que se inserem. Na história que desencadeia todo o resto, acompanhamos o interrogatório de um carteiro introspectivo chamado Cacasotto (Francesco Russo) que, após ameaçar um policial com uma faca, é detido e passa por uma tensa interação com dois policiais na costa da Calábria (Itália). Enquanto isso, acompanhamos cenas aleatórias do cotidiano de 4 amigos que compartilham um segredo que os conecta desde a infância.

Walter (Lorenzo Richelmy) é um cantor de rock que parece insatisfeito com sua dinâmica de shows, backstage e o incômodo de conciliar a fama com o fato de ser um pai ausente, Margherita (Lucrezia Guidone) é uma jornalista deprimida que vive lidando com conturbadas relações sexuais degradantes, além disso precisa administrar seu irmão mais novo, Andrea (Romano Reggiani), que vive metido em encrencas como furtos de automóveis e é viciado em drogas. Por fim, há também Gianluca (Alessio Lapice), um policial instável e com explosões de violência potencializada pela sua atividade profissional. Esta é a base para Martani desenvolver sua narrativa focada em vingança e com pitadas de um “coming of age” bastante diferente do que o Cinema Italiano está acostumado a produzir.

Importante destacar que a trama é livremente baseada no monólogo teatral de Massimiliano Bruno, chamado de “Zero”, e que ele também assina o roteiro em parceria com Martani. Este complexo mosaico de histórias de vidas conturbadas dessas 5 personagens escora-se na dramaticidade dos contextos opressivos em que vivem e que refletem as cicatrizes do trauma que passaram há duas décadas atrás quando tinham 12 anos de idade. À medida que esses indivíduos são convocados por uma mensagem de texto de Gianluca a se reencontrarem para reviverem o passado que todos eles gostariam de esquecer, o roteiro vai liberando pistas para o público compreender o frágil tecido que une passado e presente. Grande parte do mérito do filme se deve ao trabalho competente do elenco ao interpretarem figuras cheias de defeitos, tortas, que funcionam como anti-heróis, o que deixa a experiência ainda mais interessante.

Ao final, funciona como um thriller neo-noir sombrio que não tem medo de abraçar os defeitos de seus personagens para compor um complexo enredo que aborda como os traumas do passado podem refletir invariavelmente no descarrilamento da sua vida futura. Em essência, o filme também lembra “Sleepers – A Vingança Adormecida” (1996), ou seja, o reencontro de um grupo de ex-jovens com um passado traumático que, já adultos, escolhem o caminho da vingança para encontrarem alguma paz interior.

Marcello Azolino

Advogado brasiliense, cinéfilo e Profissional da indústria farmacêutica que habita São Paulo há 8 anos. Criou em 2021 a página @pilulasdecinema para dar voz ao crítico de cinema e escritor adormecido nele. Seus outros hobbies incluem viagens pelo mundo, escrever roteiros e curtir bandas dos anos 80 como Tears For fears, Duran Duran e Simply Red.

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