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“Dogman”: Produção é drama envolvente que entrelaça ação e fantasia | 2023

O primeiro cão a alcançar estrelato no cinema foi Rin Tin Tin, um pastor alemão resgatado de um campo de batalha na França durante a Primeira Guerra Mundial, que se tornou uma sensação de Hollywood nos anos 1920. Esse sucesso abriu caminho para outros ícones caninos, entre os quais se destaca Lassie, possivelmente o mais famoso cão da história. Lassie estrelou em uma série própria de filmes e programas de TV, o primeiro deles em 1943. Nas décadas seguintes, astros como Beethoven na década de 90, e o fenômeno recente Messi, de “Anatomia de uma Queda” continuaram essa tradição. Essa longa história de parceria, que transcende o cinema e remonta a milhares de anos, fez com que a inclusão de cães em filmes se tornasse uma estratégia eficaz para gerar vínculo, torcida e empatia no público. “Dogman”, captando essa nossa “fraqueza”, investe em cães como elementos catalisadores de um enredo fantástico, tecendo um drama envolvente em meio a cenas de ação eletrizantes.

Ambientado em Nova Jersey, o filme narra a história de Douglas Munrow, (Caleb Landry Jones), um homem que foi abusado pelo pai e que encontra no companheirismo dos cachorros um refúgio para os traumas de seu passado.

Luc Besson, renomado diretor francês, é celebrado por clássicos do cinema de ação como “O Profissional” (1994) e “O Quinto Elemento” (1997), verdadeiras joias do gênero. Contudo, suas obras pós anos 90 não alcançaram impacto similar. “Lucy” (2014), mesmo com a presença marcante de Scarlett Johansson, enfrentou opiniões divididas entre o público e muita resistência entre a crítica especializada. Seu mais novo projeto, “Dogman”, embora não represente um regresso ao ápice da carreira, é indiscutivelmente sua contribuição mais impactante em muito tempo.

Antes de mais nada, Caleb Landry Jones, com uma atuação sublime, entrega a performance mais notável de sua carreira, personificando Douglas, um homem cuja infância foi marcada por torturas físicas e psicológicas. Talentoso artisticamente e com uma ligação extraordinária com seus cães, companheiros de cela em um duro castigo imposto por seu pai, Douglas descobre e explora esse dom singular de maneira fora do comum. Não se trata de treinamento ou adestramento, mas de uma habilidade que desafia nossa suspensão de descrença, convidando-nos a aceitar o extraordinário sem buscar explicações.

O filme segue uma estrutura narrativa familiar, começando pelo fim com Douglas sendo detido e submetido a uma extensa entrevista com a psiquiatra Evelyn, interpretada por Jonica T. Gibbs. É através de seus questionamentos que somos introduzidos à história pregressa de Douglas. A relação entre Evelyn e Douglas evolui de meramente profissional para algo mais próximo, graças à franqueza com que Douglas compartilha suas vivências. Esse desenvolvimento tece um laço discreto, mas significativo. Mesmo que a personagem de Evelyn tenha espaço para maior visibilidade, e esse potencial não seja devidamente explorado, é no relato de Douglas que o filme encontra seu brilho.

A escolha do grupo de cães que acompanha o protagonista não é um mero acaso. Nesta matilha diversificada, encontramos uma vasta gama de raças e tamanhos, onde cada um deles vai afetar de maneira diferente o público em questão. É interessante observar como esses cães, apesar de serem uma potencial ameaça, são retratados de maneira não intimidadora. As sequências não enfatizam dentes à mostra e saliva escorrendo e com exceção de uma cena específica, os ataques não são diretamente mostrados. Em vez disso, a preparação para o ataque e a estratégia por trás de uma mordida ou um roubo são retratados como uma dança bem coreografada.

Em suma, “Dogman” oferece uma importante reflexão sobre redenção, amizade e lealdade, tecendo com muita habilidade uma narrativa emocionalmente rica, que tanto questiona quanto celebra a resiliência humana e a sua incrível capacidade de encontrar esperança e luz mesmo nos momentos mais sombrios.

Rafa Ferraz

Engenheiro de profissão e cinéfilo de nascimento. Apaixonado por literatura e filosofia, criei o perfil ‘Isso Não é Uma Critica’ para compartilhar esse sentimento maravilhoso que é pensar o cinema e tudo que ele proporciona.

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