“Conduzindo Madeleine”: Longa passeia por uma vida extraordinária com belas cenas parisienses ao fundo | 2024
Destaque do Festival Varilux de Cinema Francês 2023, “Conduzindo Madeleine” traz uma história simples, porém poderosa em sua mensagem e rica em emoção. Charles é um motorista de taxi que vive mal humorado e amargurado, ele tem dívidas e nenhuma perspectiva de melhorar de vida. Certa manhã ele recebe um telefonema da central para fazer uma viagem longa, que a princípio ele recusa, mas visto o bom pagamento, aceita: ele terá que atravessar Paris para levar Madeleine, uma senhora de 92 anos, para uma casa de repouso onde ela irá passar, ainda que a contragosto, o seu restinho de vida.
O roteiro oscila entre a doçura das belas lembranças de Madeleine, quando conheceu um oficial da 2ª Guerra por quem se apaixonou perdidamente, seus dias de figurinista de teatro junto à mãe, e o amargo da posterior vida matrimonial, infeliz e violenta, e que a levaram a um rompante de fúria e à uma condenação injusta. Os flashbacks da vida da protagonista tem como pano de fundo a sociedade extremamente machista das décadas de 40 e 50, onde ser mãe solteira era um crime contra a moral e os bons costumes, e apanhar do marido sem direito a legítima defesa era aceitável e usual; sequências que deixam a vontade de conhecer mais detalhes do passado dessa mulher fascinante.
Com músicas melancólicas mas sofisticadas, ganhamos um tour pelos estonteantes pontos turísticos de Paris, a cidade Luz que a todos encanta, a Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Praça da Concórdia e suas largas avenidas e prédios com arquitetura belíssima. Durante esse trajeto, “uma bela corrida” nas palavras do motorista e título original do filme, Madeleine e Charles vão criando um laço sensível que poderia ser de avó e neto. Charles repensa sua vida e cria novos olhares e possibilidades mais positivas para ela, com mais resiliência e sutileza para enfrentar as agruras, assim como a senhora mostra ter.
Madeleine é vivida esplendidamente pela atriz e cantora veterana Line Renaud, ela é forte sem deixar de ser suave, sempre com um olhar otimista diante das adversidades. O motorista Charles é interpretado pelo ator e humorista Dany Boon, numa atuação que carrega drama com traços de humor, que é bem diferente dos seus trabalhos usuais.
Uma trama passada quase que inteiramente dentro de um taxi tinha tudo para ser entediante, adjetivo do qual “Conduzindo Madeleine” passa longe, pois o longa é um delicioso carrossel de emoções diversas: empatia, tristeza, revolta, humor e principalmente muito carinho. A comparação com o clássico “Conduzindo Miss Daisy” é inevitável, ambos road movies com um motorista conduzindo uma senhora idosa, a princípio com frieza e indiferença. Relação essa que se torna uma bela amizade, com cumplicidade e afeto que irá arrebatar seu coração e te deixar segurando as lágrimas. Uma simples corrida de taxi que, apesar das previsibilidades, nos faz refletir que o caminho é mais importante que o destino final, e é na jornada que está a felicidade.