“Cazuza – Boas Novas”: documentário é diário íntimo de quem conviveu de perto com o poeta | 2025

O compositor, produtor musical e baixista Nilo Romero foi uma presença constate na vida de Cazuza. Nilo estudou com o Frejat, e eles tocavam juntos em uma banda de colégio, logo depois cada um acabou seguindo sua trajetória. Tempos depois – quando Frejat e Cazuza já estavam fazendo sucesso no Barão Vermelho, Nilo conheceu Cazuza. A amizade que se iniciou nos rolês do baixo Leblon, migrou para os estúdios com parcerias de sucesso quando Cazuza deixou o Barão. A sinergia entre eles culminou com o convite para fazer parte da banda de Caju, e posteriormente tornando-se seu produtor, ficando com o artista até o fim de sua vida, responsável por exemplo pelo último show dele, na emblemática tour “O Tempo Não Para”.
O documentário revisita o período mais criativo e intenso da vida do ícone: entre os anos de 1987 e 1989, Cazuza produziu três álbuns, ganhou diversos prêmios e subiu no palco para mais de 40 apresentações do espetáculo, tudo isso enquanto lidava com o diagnóstico de AIDS e vivia sob o risco de morte e o agravamento contínuo de sua saúde. Os recortes pinçados aqui contam com imagens exclusivas e depoimentos inéditos de figuras que conviveram com Caju (como os amigos mais íntimos o chamavam), como Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Leo Jaime, Frejat, sua mãe Lucinha Araújo, assim como o próprio Nilo, que faz desse material uma espécie de diário pessoal, não só pela compilação de imagens em que ele vivencia o auge e a derrocada do cantor por conta da doença, mas também por se colocar como interlocutor entre o público e essas figuras tão representativas tanto para Cazuza quanto para a cultura nacional.
O doc segue a linha convencional, com sequências em que Nilo se coloca como entrevistador, relembrando momentos da vida de Cazuza, dentro e fora do palco. O longa ainda aborda a revolta generalizada na ocasião da publicação de uma edição em que o cantor foi capa da Revista Veja e relatava seu drama vivendo com o HIV, reportagem essa que ganhou um viés sensacionalista e resultou num pedido de demissão da entrevistadora. Outro episódio polêmico narrado foi quando durante um show, na execução da canção “Brasil”, clássico da MPB composto por Cazuza, Nilo e George Israel, o cantor cospe na bandeira brasileira duas vezes.
Não estamos diante de um projeto inventivo e ousado, mas por tantos registros inéditos e depoimentos surpreendentes, “Cazuza -Boas Novas” acaba se transformando em um material relevante, sobretudo para os fãs do ídolo que ainda segue sendo referência e inspirando milhares de pessoas, um artista intenso e ciente do seu discurso de vanguarda. Assim como o poeta, que firmava que era sua arte que o mantinha vivo, o projeto, encontra na realização de Romero mais uma confirmação de que esse grande artista seguirá vivo e não será esquecido pela indústria da música jamais.