“Animais Perigosos”: longa navega na superfície do terror e mantém a dor da protagonista como isca | 2025

Sabe a frase “copia mas não faz igual”? Pois é nesse registro, entre o trágico e o cômico, que “Animais Perigosos”, de Sean Byrne, encontra forma. O filme repete o rosário do serial killer clássico: os fetiches de sempre, a final girl desenhada de antemão e a dança previsível das mortes. A ousadia, diz o enredo, estaria nos tubarões, esses retratados não como monstros devoradores de gente, mas como engrenagens de uma armadilha acionada pelo próprio algoz, que orquestra cada ataque com a frieza de quem carimba um formulário padrão. Mas chamar isso de ousadia soa forçado quando o lendário Tobe Hooper, décadas atrás, já confiara a um crocodilo função parecida no excelente “Eaten Alive” (1976).
Nesse aquário de previsibilidade, os personagens nadam conforme o limitado roteiro permite. Tucker (Jai Courtney) se impõe como predador cruel, imenso, provocador e meio doente da cabeça. Zephyr (Hassie Harrison) encarna a final girl resistente, e sua teimosia é o que mantém o interesse do vilão, que a trata como um peixe arisco prestes a escapar da rede. Os coadjuvantes, por outro lado, são mariscos presos à rocha. O vizinho excêntrico que nada acrescenta, o romance insosso que nunca convence e a semidesconhecida Heather (Ella Newton), jovem reduzida a mais um corpo jogado ao mar.
A violência, aplicada em doses cadenciadas, segue o ritmo de uma maquinaria enferrujada. Cada tentativa de fuga de Zephyr é sugada de volta à gaiola, cada lampejo de resistência vira senha para uma nova tortura. O espetáculo da dor se repete, ritualizado, até perder qualquer ilusão de acaso. E, no entanto, persiste certa crueldade no ato de prolongar esse martírio, expondo o corpo da protagonista como troféu de resistência. O filme acena para “Jogos Mortais” (2001), mas o gesto é vazio. Falta a perversidade inventiva que dava a esse subgênero uma identidade própria.
No desfecho, Byrne tenta costurar um clímax que mais parece improviso, uma maquiagem barata aplicada às pressas sobre um rosto que já denunciava cansaço. O resultado é um thriller que nada em círculos, entre fórmulas gastas e uma violência que não chega a cortar fundo. “Animais Perigosos” é, enfim, um filme que nada promete além do que já se viu, e talvez por isso mesmo termine afogado na própria repetição.